Novembro de 2012

Alguns lubrificantes podem danificar células – mas podem não aumentar o risco de infeção pelo VIH

Estudos laboratoriais efetuados nos E.U.A. concluem que alguns lubrificantes danificam as mucosas que revestem a vagina e o reto.

Contudo, tanto quanto se pode saber de ensaios feitos em laboratório, este dano não aumenta a suscetibilidade à infeção pelo VIH.

Os testes a 14 lubrificantes que podem ser encomendados online, foram feitos após relatórios iniciais efetuados há três anos atrás que apontavam para o facto de alguns lubrificantes, especialmente de utilização retal, poderem aumentar a suscetibilidade das pessoas às infeções sexualmente transmissíveis.

Os investigadores verificaram se os lubrificantes eliminavam as bactérias benéficas, se destruíam as células que revestem a vagina e o reto (células epiteliais); e se a sua utilização aumentava a possibilidade da infeção ou da replicação do VIH.

Concluíram que, embora alguns lubrificantes causassem de facto prejuízos às membranas mucosas – pelo menos em condições laboratoriais – tal não levou a um nível mais elevado de infeção pelo VIH nestas células.

Os lubrificantes que eram tóxicos para as células eram quase todos à base de água e hiperosmolares; isto significa que continham uma concentração mais elevada de sais do que de fluidos humanos, incluindo o fluido das células. Para este efeito, retiraram água das células epiteliais, tornando-as secas e destacadas da sua base. Os lubrificantes menos tóxicos eram aqueles que eram isosmolares, significando que eram os mais semelhantes aos fluidos humanos.

A investigadora principal Charlene Dezzutti afirmou que se trata de estudos preliminares e que “é necessário muito mais trabalho para explorar a segurança dos lubrificantes”, especialmente daqueles que são usados durante as relações sexuais.

Os homens gay mais jovens preocupam-se com a divulgação do estatuto serológico, transmissão e perseguições – os mais velhos com a confiança

Uma análise mais pormenorizada de um estudo publicado em 2009, descreve que, no Reino Unido, a grande maioria de homens gay que vivem com infeção pelo VIH, tem um ou mais problemas relacionados com sexo.

O estudo “What do you need?”, sobre as necessidades das pessoas que vivem com VIH no Reino Unido, concluiu que os homens gay preocupavam-se consistentemente com a divulgação do seu estatuto serológico a potenciais parceiros, com o facto de serem rejeitados pelos parceiros se o fizessem e de serem perseguidos por transmitirem a infeção pelo VIH, caso não divulgassem do seu estatuto.

Embora estas preocupações fossem comuns a todos os homens gay inquiridos, foram os homens diagnosticados mais recentemente bem como os homens que não estavam sob tratamento que mais preocupações demonstraram com estes assuntos. Embora muitos homens mais velhos também se preocupassem com estes temas, as inquietações sobre a autoimagem, perda de autoconfiança, níveis baixos de libido e falta de oportunidades sexuais eram preocupações mais presentes neste grupo.

Setenta por cento dos respondedores reportou pelo menos um problema relacionado com sexo durante o último ano. Cerca de um terço dos homens referiu que os seus problemas tinham piorado no último ano. Quando questionados sobre o que poderia ajudar a resolver os problemas, cerca de um terço afirmou que algum tipo de apoio terapêutico poderia ajudar a lidar com a baixa autoestima. Um referiu que ”sentir-me melhor comigo e não me ver como “sujo” e infetado poderia ajudar”. Um quarto dos participantes afirmou que um melhor conhecimento público sobre a infeção pelo VIH poderia ajudar na divulgação do estatuto serológico, enquanto um sexto afirmou abertamente que a clarificação da criminalização da transmissão poderia ajudar: “Atualmente, toda a pressão e responsabilidade é minha”, salientou outro.

Estudo confirma que a infeção pelo VIH é largamente transmitida por pessoas recentemente infetadas

Um estudo dinamarquês, que envolveu 1 515 pessoas diagnosticadas com VIH desde 2001, encontrou mais evidências de que o VIH é mais facilmente transmitido por pessoas que foram recentemente infetadas e que têm carga viral elevada. Utilizando uma técnica designada por análise filogenética para examinar o código genético das estirpes individuais do VIH, os investigadores foram capazes de associar um terço da amostra do estudo em clusters de transmissão – grupos de duas ou mais pessoas que tinham vírus idênticos ou muito semelhantes e que estavam claramente relacionadas pela transmissão ou por uma cadeia de infeções.

Apenas 20% das pessoas diagnosticadas tardiamente – por outras palavras, com uma contagem de células CD4 abaixo de 200 – eram membros de um cluster de transmissão, comparados com 50% das pessoas com infeção recentemente diagnosticada.

Uma larga proporção – mais do que um em seis – do grupo em estudo estava na primo infeção, definida pelos investigadores como estando infetado há não mais de seis meses. Nos dois maiores clusters de infeções relacionadas foram incluídas metade das pessoas com primo infeção.

Isto não significa que um elevado número de infeções tenha acontecido ao mesmo tempo; metade dos clusters geneticamente relacionados incluía pessoas diagnosticadas ao longo dos dez anos de acompanhamento do estudo, demonstrando que a cadeia de infeção pode ser mantida por um longo período.

Embora se saiba há já algum tempo que as pessoas com infeção recente contribuem desproporcionadamente para a transmissão da infeção pelo VIH, é colocada a hipótese de que as pessoas diagnosticadas muito tardiamente também contribuam significativamente para a transmissão, uma vez que tendem a ter carga viral mais elevada. Este estudo parece demonstrar que não é este o caso e que as pessoas encontram-se em maior risco de transmitir a infeção pelo VIH quando foram elas próprias recentemente infetadas.

Pessoas que usam drogas e que iniciam a terapêutica antirretroviral têm menor probabilidade de ter comportamentos de risco sexuais e de partilha de agulhas/seringas

Iniciar o tratamento antirretroviral (TARV) foi associado à redução de comportamentos de risco sexuais e de partilha de material de injeção entre as pessoas seropositivas para o VIH que usam drogas, segundo um estudo norte-americano. Quando as pessoas que usam drogas por via injetada iniciaram a TARV, o estudo concluiu que houve uma redução de 75% na probabilidade de terem relações sexuais desprotegidas e uma descida de 38% na probabilidade de injetarem drogas.

No ano anterior ao início da terapêutica, dois terços dos participantes reportaram algum tipo de atividade sexual e 60% injetava drogas; metade teve relações sexuais desprotegidas e um quarto reportou partilhar material de injeção.

No ano seguinte à introdução do tratamento, metade dos participantes reportou atividade sexual e um terço injetou drogas; apenas um em seis reportou ter tido relações sexuais desprotegidas ou partilha de material de injeção.

Contudo, para 16% dos participantes que continuaram a partilhar seringas após o início da TARV, a frequência na partilha do material de injeção quase duplicou.

A redução nos comportamentos de risco foi sustentada até cinco anos após a introdução da TARV – mas o aumento da partilha de seringas entre a minoria que o fez também foi consistente.

No geral, os investigadores encorajados pelas suas conclusões, escreveram que

“Os nossos dados não apoiam a premissa de que a TARV está associada ao aumento geral dos comportamentos de risco entre as pessoas que usam drogas por via injetada.”

“Os nossos resultados apoiam uma perspetiva otimista de que para a maioria das pessoas que usam drogas, o risco de compensação após o início da TARVc é pouco provável, embora com a ressalva de que uma pequena minoria da população de injetores no ativo poderão ter maior propensão para partilhar agulhas após o início do tratamento”, concluem os autores. “Com base nos resultados, devem ser consideradas intervenções de redução de riscos para pessoas com comportamentos de risco elevado no período após o início da TARV.”

Testes para a infeção pelo VIH sem prescrição médica podem ser viáveis

Um estudo de Madrid concluiu que 92% das pessoas que fizeram o teste para o VIH podiam obter um resultado válido ao testarem-se a si próprias através de uma picada no dedo, sem quaisquer instruções exceto as do folheto que acompanha o teste.

Para além de conseguir fazer com que as pessoas façam o teste, o estudo testou também a habilidade destas em reconhecer um resultado reativo, não reativo ou inválido quando se mostraram fotografias de resultados. Noventa e cinco por cento das pessoas identificou corretamente um resultado não reativo e 96,4% um resultado reativo, com apenas 1,1% a interpretar um resultado reativo como não reativo.

Nove de 519 participantes (1,7%) estavam infetados pelo VIH. Destes, oito interpretaram corretamente a fotografia semelhante ao seu resultado, enquanto o nono não teve a certeza de que a fotografia colocada ao lado do seu resultado correspondia a um resultado reativo ou inválido.

Os locais de teste foram em tendas; os investigadores observaram que o período do ensaio foi particularmente frio e chuvoso, e sugeriram que os testes realizados em casa das pessoas poderiam produzir dados mais viáveis.

Após a realização do teste, 84% dos participantes afirmou estar motivado para fazer novamente o teste.

Quando questionados sobre quanto estariam dispostos a pagar pelo teste, um terço afirmou entre 10 a 19€, um quarto referiu 20 a 29€ e um em cinco disse 30€ ou mais (o OraQuick, teste de fluido oral para o VIH aprovado para uso doméstico nos E.U.A., está à venda sem prescrição médica por $40.00 nos E.U.A. o que, com o câmbio atual, corresponde a cerca de 31€).

O estudo é importante, em parte, devido ao “período de janela” do teste Determine HIV Combo (teste de sangue usado no estudo) poder provavelmente ser mais curto do que o do OraQuick.

Os investigadores afirmam que “Este é o primeiro estudo publicado que demonstra que uma percentagem elevada de pessoas seronegativas para o VIH é capaz de fazer o teste com sangue em locais de proximidade e interpretar corretamente os resultados. ”Referem que são necessárias mais investigações sobre a auto testagem em diferentes populações e com diferentes kits.

Mais homens gay diagnosticados agora no Reino Unido do que anteriormente

Novos dados da UK Health Protection Agency (HPA) mostram que, apesar do número total de diagnósticos da infeção pelo VIH ter descido em 2011, os novos diagnósticos efetuados em homens gay e bissexuais são os mais elevados de sempre, tendo aumento cerca de 4,5% em comparação com 2010.

O número total de diagnósticos atribuídos aos homens que têm sexo com homens foi de 3 010 em 2011, enquanto 2 990 foram atribuídos ao contacto heterossexual. Esta é a primeira vez, desde 1999, que os novos diagnósticos em homens gay e bissexuais excedem o número atribuído ao contato heterossexual. O número total de novos diagnósticos de 2011 (6 280) representou um declínio de 20% em comparação com o pico de 2005 (7 914), mas o número de novos diagnósticos relacionados com os homens que têm sexo com homens foi superior a qualquer ano anterior.

A HPA continua a reportar que aproximadamente uma em cada cinco novas infeções diagnosticadas nos homens ingleses que têm sexo com homens foram contraídas fora do Reino Unido (uma tendência consistente na ultima década). Entre as pessoas heterossexuais, um método melhorado de localização aproximada do ano da infeção revelou que quase metade (48%) das pessoas heterossexuais infetadas nascidas no estrangeiro contraíram a infeção no Reino Unido.

Esta mudança deve-se largamente a um declínio substancial de diagnósticos de infeção pelo VIH entre as pessoas africanas ao passo que, em contraste, tem havido um crescimento estável no número de diagnósticos da infeção pelo VIH entre as pessoas da região europeia (até 258 em 2003 para 639 em 2011).

Tem também ocorrido uma alteração na idade com que os homens gay e bissexuais são diagnosticados com VIH. Enquanto que, em 2003 quase metade dos novos diagnósticos ocorria em homens com idades compreendidas entre os 30 e os 39 anos e em menos de um quarto em homens entre 20 a 29 anos, um numero quase idêntico de homens em cada um destes grupos foi diagnosticado com VIH em 2011.

Outras notícias recentes

Apenas metade dos homens negros norte-americanos sob tratamento antirretroviral não são infeciosos

Nos E.U.A., um estudo sobre pessoas que vivem com VIH a maioria das quais era negra e com baixos rendimentos, concluiu que apenas 51% ia ao encontro dos critérios da ‘Declaração Suíça’ de não infecciosidade. A outra metade tinha carga viral detetável apesar de estar sob TARV ou infeções sexualmente transmissíveis recentes. Três quartos deste grupo tinham estado na prisão e isto era o maior risco de não supressão do VIH.

Baixo conhecimento sobre PPE em Espanha (Português)

Um estudo espanhol descreveu baixos níveis de conhecimento e quase nenhum uso da profilaxia pós-exposição (PPE). Dos participantes do estudo, apenas um terço dos homens gay e um sexto dos heterossexuais conhecia a PPE; e apenas 2% já a tinha utilizado. Tal, é comparado com 56% de homens gay ingleses que conhecem a PPE e a vasta maioria dos homens gay na Austrália. Os investigadores apelam para que seja promovida uma maior disponibilização da PPE.

O papel sexual assumido preferencialmente pelos homens gay chineses é um guia melhor do que o comportamento relatado

Um estudo sobre homens gay na China concluiu que o papel que estes afirmam preferir assumir no sexo anal é um melhor guia para perceber o risco de infeção pelo VIH do que perguntar o que fizeram sexualmente. A prevalência do VIH nos homens que afirmaram ser penetrados ou penetrar e ser penetrado foi 2,5 vezes superior à dos homens que preferiram penetrar (18 vs 17%). Por outro lado, quando questionados sobre o que fizeram com os últimos três parceiros, a prevalência do VIH foi de 15% nos homens que preferiram ser penetrados ou penetrar e de 10% nos homens que afirmaram preferiram apenas penetrar, e tal não foi estatisticamente significativo.

O aumento do rastreio não viola a confidencialidade

Os esforços para aumentar o rastreio do VIH na África subsaariana não resultaram em falhas nos direitos dos doentes ou piores serviços, segundo um estudo. Alguns ativistas dos direitos humanos expressaram receio de que a transferência em larga escala para serviços de saúde onde o teste é realizado por rotina poderia violar o direito de recusar o teste ou quebrar a confidencialidade no caso de resultado positivo. Uma elevada percentagem de pessoas (83%) esteve com um técnico de aconselhamento antes de realizar o teste; 90% reportou ter dado consentimento; 99% recebeu o resultado e 74% foi adequadamente referenciado.

Escolha do editor para outras fontes

Discórdia no ensaio sobre PrEP em França

O grupo de ativistas franceses na área do VIH, The Warning divulgou um comunicado de imprensa onde afirma que o braço placebo do estudo sobre PrEP, controlado e randomizado, designado por IPERGAY deve ser interrompido. Tal, surge em resposta ao comunicado de imprensa da French national HIV research agency, ANRS, que afirma que o estudo deve continuar (consulte a edição de outubro deste boletim). A posição do the Warning difere das várias posições de outras organizações de base comunitárias francesas, que variam entre o apoio ao estudo IPERGAY tal como está, à exigência da disponibilização da PrEP paralelamente ao estudo ou à total rejeição do estudo. Consulte aqui o resumo dos relatórios comunitários dirigido aos coordenadores do ensaio. (em Francês).

Nova abordagem ao teste para infeções sexualmente transmissíveis, incluindo o VIH e hepatites B e C na Europa

O European Centre for Disease Prevention and Control divulgou um novo relatório que avalia novas abordagens ao teste para o VIH e hepatites B e C na Europa. 

Relações sexuais de risco não são raras em adolescentes que nasceram com a infeção pelo VIH

Numa coorte de adolescentes infetados pelo VIH à nascença, quase dois terços dos que eram sexualmente ativos reportaram relações sexuais desprotegidas e 40% dos mesmos tinha carga viral acima das 5 000 cópias/ml.

Preservativos tratados com nanopartículas de prata podem “inativar completamente” o VIH e outras infeções sexualmente transmissíveis

Os preservativos têm uma taxa de ineficácia de 15% e, desta forma, a equipa da Universidade de Manitoba tentou imergir os preservativos numa solução composta por nanopartículas microscópicas de prata. Aparentemente, em experiências laboratoriais os dispositivos tratados eliminaram o VIH e o herpes, segundo reportam os cientistas.

"Estou sob tratamento antirretroviral e com carga viral indetetável: e agora o sexo seguro?"

Numa extensa entrevista onde foram colocadas perguntas difíceis, Bob Leahy perguntou ao Dr. Rupert Kaul, médico/cientista de Toronto, sobre como podemos interpretar o risco de transmissão da infeção pelo VIH na era da carga viral indetetável.