Setembro de 2013

Um em cinco homens gay norte-americanos não faz o teste do VIH quando está numa relação estável

Um quinto dos homens gay que teve resultado negativo no último teste do VIH e que está numa relação com um parceiro masculino, não fez o teste do VIH durante a relação atual, segundo conclui uma investigação norte-americana.

O estudo recrutou 275 casais de homens seronegativos para a infeção pelo VIH via Facebook. Concluiu que 21% afirmou fazer o teste do VIH cada três a seis meses, 29% fazia o teste anualmente, 30% fazia o teste quando pensava poder ter tido algum risco, e os restantes 20% não fazia o teste do VIH durante a relação atual.

Os homens que não tinham feito o teste do VIH não tinham, inesperadamente, maior probabilidade de estar numa nova relação, mas tinham maior probabilidade de serem mais novos e de ter menor grau de escolaridade. Tinham menor probabilidade de terem negociado um acordo sobre relações sexuais fora do casal e maior probabilidade de afirmar confiar no parceiro. Reciprocamente, os homens que faziam o teste frequentemente eram mais velhos, confiavam menos no parceiro, tinham maior probabilidade de ter uma relação aberta ou de ter tido relações sexuais “extraconjugais” e maior probabilidade de ter um acordo com o parceiro sobre qual a fronteira sexual do relacionamento.

Claramente, os homens que não fazem o teste podem ter razão em confiar no parceiro mas, segundo afirmam os investigadores, “é necessária investigação adicional para explorar como os conceitos de confiança afetam… o rastreio do VIH no comportamento dos casais gay”.

Comentário: Dado que o rastreio do VIH é ainda baixo no Reino Unido e na maioria dos países europeus quando comparado com os E.U.A., em especial a frequência com que se faz o teste, é provável que a percentagem dos homens gay numa relação primária que não fazem o teste seja mais elevada que 20%.

O AZT intravenoso é ainda útil para travar o VIH se as mães que vivem com VIH tiverem carga viral elevada no momento do parto

Um grande estudo francês com mais de 11 000 mulheres que vivem com VIH concluiu que o AZT administrado por via intravenosa, que até recentemente era recomendado para todas as mulheres com VIH no momento do parto para prevenir a transmissão mãe-filho (MTCT), ajudou a descer as taxas de MTCT. Contudo, não teve qualquer influência na maioria das mães com carga viral controlada (400 cópias/ml ou menos). Também não teve qualquer influência quando o bebé recebeu 2-3 medicamentos antirretrovirais como profilaxia pós-exposição (PPE) após o nascimento.

A taxa geral de MTCT durante os 13 anos do estudo (1997-2010) foi de 7,5% sem e de 2,9% com AZT intravenoso.

Contudo, não houve transmissão da infeção pelo VIH de nenhuma mulher com carga viral abaixo de 400 cópias/ml que não tenha recebido AZT intravenoso. Na realidade, ocorreram 42 transmissões (0,6%) de mulheres que receberam AZT intravenoso. Tal é devido ao facto de as orientações continuarem a recomendar AZT intravenoso até julho de 2010, tendo a maioria das mulheres do estudo recebido este medicamento.

No entanto, as mulheres com falha virológica que procederam a cesariana tinham cinco vezes maior probabilidade de transmitir a infeção pelo VIH (9,5%) se não recebessem AZT intravenoso do que as que recebiam (1,8%). O estudo, na generalidade, defende a descontinuação de AZT intravenoso na prevenção da infeção pelo VIH de mãe-filho, mas demonstra que este pode ainda ser útil nas mulheres com falência virológica ou que chegam tardiamente aos cuidados de saúde. Adicionalmente, Como o número reduzido de mulheres que receberam AZT intravenoso não permitiu fazer recomendações fortes, os investigadores apoiam o uso deste medicamento nos casos de parto mais complicados, como cesarianas de emergência.

Comentário: Este grande estudo é útil para os casos de mulheres que são diagnosticadas em estado avançado de gestação, não esquecendo que o maior contributo para reduzir a transmissão mãe-filho é disponibilizar terapêutica antirretroviral a todas a s mulheres grávidas e assegurar supressão virológica.

Poucos homens gay seronegativos para o VIH desempenham apenas um papel na relação sexual, mas tentam a “seroposition”

Um estudo norte-americano, um dos primeiros no país a analisar qual o papel que os homens gay preferem na relação sexual anal, concluiu que os homens seronegativos para a infeção pelo VIH são “versáteis”, assumem o papel tanto de insertivo como recetivo e têm consideravelmente mais vezes sexo desprotegido do que os homens que assumem apenas um papel sexual.

O estudo concluiu que 63% dos homens gay eram versáteis, 17% exclusivamente “ativos” (insertivo) e 10% exclusivamente “passivos” (recetivo). Os outros 10% não tinham relações sexuais anais. Estes números são semelhantes aos números do estudo realizado no Reino Unido, Gay Men’s Sex Survey of 2008, que concluiu que 56% dos homens eram versáteis, 18% ativos, 15% passivos e 11% não tinham sexo anal.

Os investigadores afirmaram que os homens versáteis tinham maior probabilidade de transmitir a infeção pelo VIH do que os homens com apenas um papel sexual – por terem maior probabilidade de adquirirem o vírus através do sexo recetivo e de o transmitir através de sexo insertivo. Esta pode ser umas das razões para explicar porque a incidência do VIH é superior ao que seria esperado nos homens gay do que nas pessoas heterossexuais dado que o VIH é transmitido com maior eficiência nas relações sexuais anais.

O estudo concluiu, tal como em outros, que os homens mais novos têm maior probabilidade de assumir o papel recetivo do que os homens mais velhos; tal é também um comportamento padrão que facilita a transmissão da infeção pelo VIH, observado em estudos sobre sexo inter-geracional.

O estudo concluiu ainda que muitos homens gay tentam reduzir o risco de transmissão através de “seropositioning”. Quando um homem seronegativo do estudo tinha relação sexuais com um homem que sabia viver com VIH, tinha 2,3 vezes maior probabilidade de ser exclusivamente insertivo e 1,5 vezes maior probabilidade quando não sabia o estatuto serológico do parceiro.

Comentário: O estudo, interessantemente, confirma o que outros estudos já concluíram, contudo é difícil retirar daqui uma mensagem de saúde pública, uma vez que é pouco provável os homens seronegativos trocarem de papel logo após o diagnóstico mais do que já o fazem. Os homens gay seronegativos parecem já estar informados que é mais seguro serem ativos com um parceiro seropositivo para o VIH ou com estatuto desconhecido. O estudo concluiu que o “seropositioning” tornou-se menos comum nas relações a longo prazo, e assim, o conselho é reforçar a informação de que os parceiros não devem tomar decisão de deixar de usar o preservativo antes de fazerem o teste do VIH. Leia acima o artigo” Um em cinco homens gay norte-americanos não fazem o rastreio quando estão numa relação”.

Jovens homens gay infetam-se com HPV muito depressa, mas a vacina pode ainda ajudar

Um estudo que acompanhou jovens homens gay durante um ano concluiu que a infeção com pelo menos uma estirpe do papiloma do vírus humano (HPV) era mais provável do que nenhuma para os homens que tinham tido, pelo menos, uma relação sexual anal no ano anterior.

Contudo, concluiu que menos de um em cinco, que não tinha ainda estirpes do HPV associadas a um elevado risco de cancro ( HPV 16 e 18), infetavam-se durante o ano e que nenhum homem do estudo tinha as quatro estirpes do HPV que a vacina Gardasil®, usada atualmente no Reino Unido, protege.

Os investigadores afirmam que o estudo reforça a importância da vacinação nos jovens homens gay antes de se tornarem sexualmente ativos, “mas” acrescentam, “o facto de a maioria dos jovens homens gay terem sexo com homens (JHSH) pareceu permanecer suscetível a, pelo menos, a alguma estirpe do HPV incluída na vacina, demonstrando algum benefício nos programas de imunização a JHSH.” 

Durante o estudo, dos 94 homens gay com idades compreendidas entre os 16 e os 30 anos (mediana de 21 anos), 70% tinha infeção pelo HPV anal detetada a determinada altura, com 28% a ter HPV-16, o mais comum e virulento tipo de causa de cancro. Entre os homens que não tinham HPV no início do estudo, a incidência anual foi de 47% - em outras palavras, havia uma probabilidade de 50/50 de testarem pelo menos uma estirpe do HPV no período de um ano. Contudo, a incidência anual do HPV 16 ou 18 foi de apenas 18% (tal comparado com a incidência anual de 7% para o tipo 16 isolado em jovens mulheres  no primeiros ensaios sobre a eficácia da vacina).

Um estudo recente em homens gay mais velhos, reportado na edição Novidades sobre prevenção do VIH na Europa, edição de julho, concluiu que enquanto 30% tinha HPV-16, apenas 5% adquiria novas infeções por ano, sendo que os homens mais velhos podem também beneficiar da vacina.  

Comentário: Este estudo não fortalece apenas a forte evidência de que os rapazes tal como as raparigas devem receber Gardasil® antes do início da atividade sexual, mas sugere ainda que, devido ao facto de subtipos do HPV puderem ser eliminados pelo sistema imunitário mas depois readquiridos, a vacina pode ser útil para os homens gay a qualquer idade, especialmente nos homens que vivem com VIH, que têm maior probabilidade de desenvolver infeções pelo HPV longas e, subsequentemente, cancro anal.

PrEP aceite pelos homens gay e trabalhadores do sexo quenianos, mas o estigma e “mexericos” podem ser barreiras

Um estudo qualitativo sobre aceitabilidade do Truvada® para a profilaxia pré-exposição (PrEP) em 66 homens que têm sexo com homens (HSH) e cinco trabalhadoras do sexo concluiu que a adesão foi elevada (83%) naqueles que tomaram um comprimido diário e que os participantes estavam muito motivados para continuar a tomar a PREP, apesar de alguns terem tido efeitos secundários no início da toma  

Os participantes foram randomizados para um regime não contínuo da PrEP, contudo, a toma da medicação às segundas  e sextas-feiras e também duas horas depois das relações sexuais, obteve apenas 55% de adesão, com a maior dificuldade a ser observada na toma da dose após as relações sexuais, com apenas 23% dos participantes a aderir. Os participantes referiram que muitas vezes, o sexo decorreu em contexto de drogas e álcool e muitas vezes adormeceram sem tomar a medicação.

O estudo concluiu ainda que a maior barreira para a aceitabilidade da PrEP foi o medo de outras pessoas presumirem que estavam infetados pelo VIH após observarem a toma da medicação – um medo referido em algumas ocasiões, com um dos participantes a culpar a PrEP por ser responsável pelo fim do casamento e outro a levar a mulher ao centro de rastreio para provar que não estava infetado pelo VIH: os participantes sugeriram que o Truvada® usado na PrEP poderia ser manufaturado de forma diferente do Truvada® prescrito para terapêutica antirretroviral.

Comentário: Este estudo confirma que, tal como em outros, as barreiras na toma da PrEP são maioritariamente sociais. Por um lado, demonstra que esta população em situação de forte vulnerabilidade – principalmente HSH que fazem muitas vezes trabalho sexual com outros homens e que tenham tido sexo com mulheres e sejam casados – ficou satisfeita em considerar a ideia da PrEP e em alguns casos acredita que, removendo o medo do VIH, é também reforçada a experiência sexual. 

Outras notícias recentes

Prescrição da PrEP nos E.U.A. é feita sobretudo a mulheres do Sul

Um estudo inicial sobre a prescrição de Truvada ® para profilaxia pré-exposição (PrEP) feita por médicos nos Estados Unidos da América concluiu existir uma probabilidade elevada de as pessoas a tomar o medicamento residirem nos estados do sul, serem jovens e mulheres, mais que pessoas sob antirretroviral. Excluindo os participantes de ensaios clínicos, a PrEP foi prescrita a 2 000 pessoas nos E.U.A. desde 2011.

Violência conjugal pode prejudicar o uso de métodos de prevenção do VIH

As mulheres vítimas de violência por parte dos seus parceiros masculinos têm uma menor probabilidade de utilizar preservativos ou diafragmas, relatou uma equipa internacional de investigadores na edição online do Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes. A violência em relacionamentos aumenta em 47% o risco de não usar o preservativo e em um quarto o de não usar o diafragma.

SMS não reduzem o recomeço precoce da atividade sexual nos homens recentemente circuncidados

A troca de SMS não ajudou a reduzir a retoma precoce da atividade sexual após a circuncisão de acordo com um ensaio randomizado e controlado de grandes dimensões conduzido em doze locais da província de Nyanza, no Quénia. Contudo, o estudo confirmou uma série de fatores de risco na retoma da atividade sexual antes da cicatrização e concluiu que os homens que tinham sexo antes do fim do período de abstinência recomendado tinham uma maior probabilidade de ter sexo desprotegido nessas ocasiões.

Homens gay lembram-se ver campanhas nos media, contudo, o impacto no comportamento permanece pouco claro

Uma campanha nos media sobre promoção do uso de preservativo e de check-ups de saúde sexual a homens gay e homens que têm sexo com homens na Escócia foi recordada por 60% do membros do grupo-alvo mas não existiram evidências de que tenha tido um impacto nos comportamentos sexuais de risco. Embora os investigadores tivessem concluído que os homens com níveis médios e elevados de exposição à campanha tivessem uma maior probabilidade de fazer o teste do VIH, é difícil afirmar se tal foi causado pela campanha ou se os homens que fazem o teste regularmente prestam mais atenção a este tipo de campanhas.

Estudo sul-americano conclui que microbicidas rectais formulados como duche aceitável

Um estudo qualitativo em três cidades do Peru e do Equador concluiu que a maioria dos homens gay e mulheres transgéneras inquiridos consideram que os microbicidas rectais formulados em duche (liquido para lavagem anal), ao invés de em gel ou lubrificante, poderiam fornecer uma segurança ou eficácia adicionais. Contudo, os inquiridos duvidaram da exequibilidade desse método em atividades sexuais em ambiente não doméstico. Os investigadores também concluíram que alguns dos participantes já usavam uma variedade de fórmulas caseiras para lavagem antes do sexo anal, algumas potencialmente perigosas.

Escolhas do editor de outras fontes

Candidata a vacina da SIDA aparenta remover por completo o vírus do organismo

Fonte: Eurekalert Medicine & Health

Uma candidata a vacina do VIH desenvolvida por investigadores da Oregon Health & Science University aparenta ser capaz de remover por completo do organismo o vírus que causa a SIDA. A promissora vacina está a ser desenvolvida no Vaccine and Gene Therapy Institute, da OHSU. Os resultados da investigação foram publicados online no jornal Nature.

Ver também a reportagem da BBC.

Vacina para o VIH não produziu efeitos secundários em ensaio

Fonte: press release da Western University

Um ensaio clinico de fase 1 (SAV CT 01) da primeira e única vacina preventiva do VIH, baseada numa modificação genética, eliminou o vírus por completo (SAV001-H) e foi concluído com sucesso sem efeitos secundários em todos os participantes. As vacinas vivas são vistas como sendo potencialmente perigosas mas este ensaio de fase 1 pode abrir caminho à futura investigação com esta abordagem e que pode gerar uma resposta imunitária superior à de outras candidatas a vacinas.

“Ruínas” – limpeza ao VIH em 2012 e o que veio a seguir

Fonte: Ekathimerini

“Ruins: Chronicle of na HIV Witch Hunt” é um filme de 53 minutos que documenta uma “caça às bruxas” que teve como alvo mulheres seropositivas para o VIH em Atenas. Durante uma tensa campanha legislativa, num contexto de austeridade e preocupação com o aumento das taxas de infeção pelo VIH, o ministro da saúde grego decidiu reunir, testar à força e divulgar nomes, humilhar e perseguir publicamente um grupo de mulheres seropositivas para o VIH. O filme analisa o impacto psicológico do estigma imposto às mulheres e às suas famílias. O documentário pretende, paralelamente, desconstruir as causas sociais e motivações políticas que conduziram a esta operação.

Criminalização excessivamente ampla do VIH tem mais efeitos negativos que positivos

Fonte: HIV Justice Network

O HIV Justice Network lançou um novo documentário, “More Harm than Good: How overly broad HIV criminalisation is hurting public health”, que teve a sua estreia mundial na US Conference on AIDS a 10 de setembro, em Nova Orleães. Apesar das fortes recomendações da UNAIDS e da Global Comission on HIV and the Law contra o uso excessivo da criminalização legal, o mais recente relatório da Global Network of People Living with HIV e a HIV Justice Network salientam que continuam a ser propostas e implementadas novas leis e que nunca existiram tantas acusações.

Grupos de pares no Facebook podem ser úteis na educação do VIH

Fonte: Reuters

Investigadores concluíram que grupos criados na rede social Facebook ajudaram a encorajar homens que têm sexo com homens a procurar informação sobre os testes domésticos para a infeção pelo VIH. As pessoas foram associadas de forma aleatória a dois grupos. Um era conduzido por pessoas que publicavam através do Facebook informações sobre a prevenção e testes do VIH. O outro era conduzido por pessoas que enviavam aos membros informações sobre como manter um estilo de vida saudável. Dos 57 homens no grupo de prevenção do VIH, 25 requisitaram os testes domésticos e 9 desses foram enviados de volta. No grupo do estilo de vida saudável, só 11 dos 55 homens requisitaram testes ao VIH, com apenas dois a serem enviados de volta.

Ver também este artigo para uma crítica ao estudo.

Seminário online: prevenção do VIH entre pessoas que consomem drogas injetáveis

Como parte do trabalho de prevenção da infeção pelo VIH na Europa, a NAM está a colaborar com a AVAC na disponibilização de um conjunto de seminários online (conferências telefónicas com apresentação de diapositivos) para formar e informar ativistas na área da prevenção ou outras pessoas interessadas nos mais recentes desenvolvimentos tecnológicos nesta área.

O próximo seminário será sobre a prevenção do VIH em pessoas que injetam drogas (PID), com um foco na Europa de Leste.

O seminário online de 90 minutos será seguido de uma sessão de perguntas e respostas com os nossos oradores. O seminário será conduzido em inglês e terá como Chair Rebekah Webb da AVAC.

Uma vez que outubro é um mês com muitas conferências, o seminário terá lugar na segunda quinzena do mês, às 14h00 (GMT), 15h00 em hora europeia (CET) na terça-feira 22 e na quinta-feira 24 de outubro. Poderá encontrar mais detalhes nos sites da Aidsmap ou AVAC.