Os homens gay correm riscos muito diferentes para a infeção pelo VIH; implicações para a PrEP
Os investigadores analisaram o número de vezes que os membros da coorte corriam riscos durante o período do estudo (ao atribuir uma “pontuação do risco” a cada período de seis meses) e concluíram que a pontuação do risco nos homens tinha tendência a ser consistente, e a decrescer em três grupos diferentes. O estudo concluiu ainda que um em sete homens pertenciam a um grupo de elevado risco, ou seja, um terço dos que adquiriram a infeção pelo VIH durante o estudo. Pouco menos de um quarto pertencia a um grupo de risco moderado, dos quais 10% seroconverteram.
Os outros dois terços tinham um risco baixo de se infectarem com VIH, exceto por curtos períodos de tempo: 3% destes adquiriram a infeção pelo VIH.
Pertencer a um terço dos participantes da coorte com mais riscos foi associado a ser caucasiano, ter rendimentos elevados e a ser mais jovem; adicionalmente, pertencer ao sétimo grupo de maior risco foi associado a depressão e a consumo de drogas recreativas.
Comentário: Os autores levaram a cabo esta análise porque pretendiam obter informação que os pudessem ajudar a direcionar melhor a profilaxia pré-exposição (PrEP):uma das razões para que este método de prevenção esteja a ser lentamente implementado nos E.U.A., não tendo recebido aprovação em mais nenhum país, deve-se aos custos. Os estudos de custo-efetividade indicam que a PrEP apenas poderá ser económica se tomada por pessoas em maior risco de contrair a infeção pelo VIH (consulte o relatório para um exemplo). É, contudo, muito interessante, observar o primeiro estudo que demonstrou a relação entre características específicas em homens gay e o que os autores designam por “trajetórias de risco” – padrões longitudinais de risco de infeção pelo VIH ao longo do tempo.
Forte redução no consumo de drogas injetáveis em pessoas com resultado positivo para a hepatite C
“A principal conclusão deste estudo é que a notificação dos resultados para o VHC e aconselhamento estão relacionados com a redução de comportamentos subsequente no uso de drogas em PUDI (pessoas que usam drogas injetáveis) ao saberem que contraíram recentemente o infeção pela hepatite C, mas não para aqueles que são seronegativos”, comentam os autores. “As reduções nos comportamentos de uso refletem, provavelmente, o facto de se saber que estão informados sobre a recente seroconversão.”
Os investigadores concluíram ainda que durante os 30 meses de acompanhamento, a proporção de participantes que declarou partilhar seringas desceu para níveis muito baixos, independentemente do estatuto serológico para o VHC.
Os autores do editorial que acompanhou o estudo pensam que os resultados salientam “a importância do teste do VHC como catalisador para mudanças de comportamento”.
Comentário: O estudo não foi capaz de demonstrar que o diagnóstico específico para a hepatite C levou à redução do consumo de drogas injetáveis, ou que o rastreio para o VHC levou diretamente à diminuição da partilha de material de consumo. É mais provável que o rastreio e o diagnóstico tenham resultado da ligação dos injetores a um programa sustentável de cuidados de saúde gerais. Tal como em outros estudos sobre pessoas que injetam drogas, este estudo demostra que cuidados adequados podem produzir fortes mudanças nos comportamentos de risco.
Estudo inglês observa trabalhadores do sexo masculinos
Os trabalhadores do sexo masculinos tinham três vezes mais probabilidade de serem diagnosticados com infeção pelo VIH do que outros homens que frequentam os serviços de saúde sexual em Inglaterra. Tinham também duas vezes mais probabilidade do que os outros homens de serem migrantes (38 versus 19%): mais de um terço dos trabalhadores do sexo masculinos do estudo não tinha nascido no Reino Unido.
Dos trabalhadores do sexo masculinos migrantes, 38% era proveniente de apenas um país – Brasil. Um quarto era originário de países da Europa ocidental, 12% da Europa de Leste e 12% da Ásia.
No geral, apenas um em 1 250 utentes atendidos nos serviços de saúde sexual se identificou aos profissionais de saúde como trabalhador do sexo. Outros estudos no Reino Unido, contudo, estimaram que apenas um terço dos trabalhadores do sexo se identificam aos profissionais de saúde, o que sugere que um em 400 homens que foram atendidos nos serviços de saúde sexual é trabalhador do sexo.
Surpreendentemente, os trabalhadores do sexo masculinos eram ligeiramente mais velhos do que os outros clientes masculinos (29 versus 28 anos em média) e 30% dos trabalhadores do sexo tinha mais de 35 anos. Os autores salientam que estes resultados são contrários às “suposições que os TSM (trabalhadores do sexo masculinos) são um grupo predominantemente jovem”. Os trabalhadores do sexo masculinos tinham maior probabilidade de serem rastreados nos serviços de saúde sexual, mas não maior probabilidade de fazer o teste do VIH do que os outros (73% fez).
Como era esperado, 57% dos trabalhadores do sexo masculinos identificaram-se como homens que têm sexo com homens, em comparação com 15% da população geral masculina. Contudo, os investigadores comentam que ficaram surpreendidos por saber que até 43% dos trabalhadores do sexo masculinos identificaram-se como sendo predominantemente heterossexuais.
Comentário: Este é um estudo complementar muito interessante, de uma amostra base grande similar ao estudo europeu sobre homens gay, EMIS, que concluiu que um em 20 auto identificavam-se como homens gay que tinham vendido relações sexuais a determinada altura, mas que apenas um em 200 tinha vendido sexo em 10 ou mais ocasiões. Os trabalhadores do sexo masculinos formam, assim, uma proporção relativamente pequena de homens que têm sexo com homens, mas com maior probabilidade de ter necessidades específicas por serem migrantes ou estarem socialmente isolados dos outros HSH. O estudo EMIS concluiu que vender sexo era mais comum em alguns países da Europa de Leste, como a Macedónia, mas que era relativamente mais comum em Itália.
Homens gay recentemente diagnosticados nos E.U.A. têm carga viral elevada
Os resultados podem não ser inteiramente maus. Os investigadores reconhecem que a carga viral que registaram pode dever-se ao facto de as pessoas mais jovens serem diagnosticadas precocemente: significa que a contagem de células CD4 no momento do diagnóstico era de 456 células/mm3, indicativo de um diagnóstico relativamente recente. Nos jovens no geral, houve uma associação significativa entre contagem baixa de células CD4 e carga viral elevada, contudo, a carga viral era significativamente elevada entre os HSH em comparação ao grupo heterossexual: quase um terço dos jovens HSH tinha carga viral acima de 50 000 cópias/ml em comparação com uma em cinco pessoas que contraíram a infeção pelo VIH à nascença e uma em seis pessoas através de relações sexuais heterossexuais.
Comentário: Este estudo demonstra que os jovens gay por diagnosticar nos E.U.A. formam um grupo que é, em média, altamente infecioso, mas não por estar doente; pelo contrário, mais de dois terços das pessoas diagnosticadas tinha contagem de células CD4 acima de 350 células/mm3, sugerindo que uma elevada proporção de infeções em jovens HSH estão a ser identificadas precocemente. Na Europa, uma proporção bem mais baixa de homens gay com infeção pelo VIH está na faixa etária abaixo dos 25 anos, apesar de o EMIS concluir que a taxa de novos diagnósticos da infeção pelo VIH ser mais elevada na Europa de Leste, onde os respondedores eram também, em média, jovens.
O rastreio na admissão hospitalar diagnostica infeções recentes
O programa de rastreio opt-out do hospital universitário Croydon para admissões médicas foi iniciado em 2011 (é descrito no Tales of the late diagnosed na edição 214 do HIV treatment update).
Mais de 12 500 pessoas foram admitidas nos cuidados intensivos entre julho de 2011 e março de 2013. Um terço (33%) foi rastreado para o VIH e a taxa do teste subiu para 41% na segunda metade do estudo.
Vinte pessoas tiveram resultado positivo, sendo 14 do género masculino. Esta taxa de diagnóstico de 0,48% é mais ou menos semelhante à taxa de prevalência do VIH geral no bairro londrino de Croydon.
Das pessoas que receberam resultado positivo, 17 foram recentemente diagnosticados e três eram pessoas que previamente tinham recebido um resultado positivo, mas que abandonaram os cuidados de saúde: duas delas foram reconetadas aos cuidados de saúde e continuam a ser feitos esforços para contactar o outro doente. Onze doentes iniciaram a terapêutica antirretroviral. Um novo diagnóstico foi feito entre os contactos das pessoas que receberam resultado positivo para a infeção pelo VIH. Um outro doente masculino estava na fase de primo infeção; era casado e a mulher grávida e, dois anos depois, tanto ela como o bebé permaneciam seronegativos.
Comentário: Um dos mais importantes aspetos deste estudo é que conclui que esta política foi incrivelmente barata para detetar novas infeções pelo VIH: o custo total de 4 122 testes foi de £20,527 ou £1 466 por cada nova infeção pelo VIH diagnosticada. Este não é o primeiro estudo baseado em Londres a concluir que rastrear nos cuidados intensivos é uma boa estratégica para detetar infeções pelo VIH ainda por diagnosticar: o estudo HINTS também encontrou uma prevalência relativamente elevada em pessoas admitidas no hospital do que em doentes admitidos por acidente e unidades de emergência ou cuidados primários.
O aconselhamento por computador reduz a carga viral e os comportamentos de risco
O módulo de aconselhamento CARE+ informou e ajudou os participantes a pensar em temas como adesão, divulgação do estatuto serológico, sexo mais seguro, uso de substâncias e o impacto da adesão na carga viral.
A carga viral dos participantes, adesão e comportamentos de risco foram medidos um mês após o final da intervenção que durou nove meses.
O auto reporte dos comportamentos de risco dos participantes desceu em 55% enquanto aumentou modestamente no grupo de controlo. Da mesma forma, a adesão ao tratamento aumentou de 76% no início do estudo para 81% entre os utilizadores do CARE+, mas desceu ligeiramente no grupo de controlo. Entre os 30% dos doentes que tinham carga viral indetetável no início do estudo, a adesão aumentou para os utilizadores do CARE+ até 13%.
Estes são dados auto reportados, mas os relatórios laboratoriais mostram também que a carga viral reduziu. Entre os participantes com carga viral detetável no início do estudo, houve uma média de 75% de redução da carga viral em comparação com 30% de redução no grupo de controlo, apesar de o CARE+ ter produzido apenas uma melhoria marginalmente significativa na supressão da carga viral em todo o grupo.
Comentário: Estudos de intervenções comportamentais usam, muitas vezes, apenas os resultados do auto reporte. É impressionante que este meio de prevenção/educação computorizado tenha produzido a medição na melhoria da carga viral nas pessoas que não tinham carga viral suprimida no início do estudo. É importante notar, contudo, que os resultados foram medidos apenas um mês depois de o programa terminar e é importante verificar durante quanto tempo os seus efeitos se mantêm.
Seminário online NAM/AVAC – Atualização da investigação na área do VIH: o que observar em 2014
O primeiro seminário online da iniciativa conjunta da NAM com a AVAC (conferências telefónicas com apresentação de diapositivos) terá ligar dia 30 de janeiro, quinta-feira, às 14:00 (GMT), 15:00 em hora europeia (CET).
Desta vez, estamos ansiosos por obter informações sobre notícias da área da prevenção para 2014.
Estarão presentes os seguintes oradores:
- Gabrielle Breugelmans, do European and Developing Country Clinical Trials Partnership
- Tina Bruun, do estudo PARTNER
- Giulio Maria Corbelli, do European AIDS Treatment Group.
A sessão será moderada por Rebekah Webb, da AVAC.
Para fazer o registo, clique no link https://cc.readytalk.com/r/4vjyo4vedwjy&eom.
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Um estudo norte-americano confirmou que os testes de “quarta-geração” que combinam testar os anticorpos do VIH com o teste para a proteína p24 são mais sensíveis no geral e, em particular, podem detetar mais de metade e até 87% de todas as infeções recentes enquanto o teste de anticorpos do VIH detetam cerca de um terço. O estudo conclui ainda que o teste de fluido oral usado em contexto rápido ou em casa falha 13% de todas as infeções. Os testes de quarta-geração são padrão na Europa, mas apenas foram aprovados nos E.U.A. em 2010.
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