Janeiro 2013

Taxas de infeção pelo VIH elevadas em homens que já utilizaram PPE

Um estudo efetuado em Amesterdão concluiu que os homens gay que usaram a profilaxia pós-exposição (PPE) tinham quatro vezes mais probabilidade de estarem infetados pelo VIH do que os que nunca tinham utilizado PPE.

A não eficácia da PPE não parece ser a causa da infeção pelo VIH, mas sim os comportamentos de risco continuados após o tratamento com  PPE. A adesão auto reportada ao regime terapêutico da PPE foi elevada, 94%.

Os investigadores compararam as taxas de infeção pelo VIH entre 2000 e 2009 em 355 homens que tinham recebido no total 385 tratamentos de PPE, com taxas de infeção durante o mesmo período em 782 homens que entraram no Estudo Coorte de Amesterdão. No primeiro grupo foi medida a incidência da infeção pelo VIH três e seis meses depois de receberem PPE  e no outro grupo foi feita  após a entrada na coorte.

A incidência da infeção pelo VIH, traduzida em infeções por homem por ano, foi de 6,4% nos homens que tinham feito PPE e de 1,6% no estudo coorte. Três dos onze utilizadores da PPE foram infetados pelo VIH três meses após o seu uso, contudo, os restantes oito apenas foram diagnosticados após seis meses, indicando que poucas – ou mesmo nenhuma – das infeções ocorreu enquanto estavam sob PPE.

“O nosso estudo demonstrou uma elevada incidência da infeção pelo VIH nos homens que têm sexo com homens (HSH) que usaram PPE, uma indicação do contínuo comportamento de risco”, escrevem os investigadores. “Tal implica que a PPE só por si neste grupo não é suficiente na prevenção da infeção pelo VIH e que uma combinação de outras estratégias mais abrangentes é necessária.”

Comentário: É importante não interpretar este estudo como uma falha da PPE. Pelo contrário, indica que os homens gay que fazem o tratamento da PPE vêm-se em elevado risco de infeção pelo VIH, mas concluem que a estratégia da PPE não é uma estratégia que possam utilizar vezes suficientes para se protegerem. Estudos anteriores sobre a PPE também concluíram que, embora tenham obtido uma eficácia de 80% para as infeções individuais, o seu uso não interfere nas taxas da infeção a nível populacional. A elevada incidência da infeção pelo VIH nas pessoas que procuram a PPE indica que estes podem ser candidatos ideais para receber formação contínua sobre PrEP (profilaxia pré-exposição). De momento, a PrEP é ainda um método de prevenção experimental e o seu acesso é limitado a medicamentos não licenciados ou utilizados em ensaios clínicos.  

Como aumentar o conhecimento de intervenções biomédicas para a infeção pelo VIH: avaliação da PPE

O conhecimento dos homens gay sobre a profilaxia pós-exposição (PPE) para a infeção pelo VIH melhorou significativamente após a implementação de estratégias de comunicação, de acordo com um recente estudo da Austrália ocidental.

O estudo importa nas investigações deste tipo – sobre o impacto das campanhas de comunicação na sensibilização de intervenções de prevenção – uma vez que são relativamente raros. Os ativistas na área da prevenção estão a ponderar como aumentar a sensibilização  para outras medidas estratégicas, como a PrEP e o controlo virológico da carga viral.

Em resposta aos dados que mostravam um baixo conhecimento da PPE não ocupacional na comunidade de homens gay e a prescrição da PPE não abrangida pelas orientações, as campanhas de sensibilização foram iniciadas em 2005 e estão ainda a decorrer. Os principais elementos que as compõem são:

  • um panfleto e um poster sobre PPE, serviços de saúde sexual e organizações parceiras
  • publicação no jornal Perth gay e no site Gaydar
  • uma linha telefónica aberta 24 horas, gerida por enfermeiros
  • distribuição de informação sobre orientações e comunicações relacionadas dirigidas aos profissionais de saúde.

A sensibilização dos homens gay e bissexuais sobre a PPE foi medida através de estudos periódicos da Perth Gay Community Periodic, conduzidos em 2002, 2004, 2006, 2008 e 2010. Tendo em conta os dois estudos efetuados antes da campanha de comunicação, menos de um quarto dos homens tinham conhecimento da PPE, aumentando para mais de metade em 2008.

Contudo, a sensibilização desceu em 2010 para 40%. Os autores observam que os canais de comunicação e os materiais mudaram um pouco desde o início da campanha. Afirmam que os resultados de 2010 “indicam que uma abordagem mais “fresca” deve ser considerada, e que pode envolver as mais recentes tendências do marketing social, como o uso dos media sociais.”

Comentário: Apesar de, como concluído no estudo anterior, a disponibilização da PPE não influenciar a incidência da infeção pelo VIH a nível populacional, é um importante recurso de emergência para pessoas que possam ter estado expostas à infeção pelo VIH. Com novas estratégias de sensibilização para intervenções biomédicas a serem consideradas, o sucesso desta campanha será fortemente acompanhado pelos ativistas da área da prevenção.

Estudo francês em jovens: conhecimento sobre a infeção pelo VIH e confiança no preservativo decresce

Um estudo nacional sobre as atitudes relativamente à infeção pelo VIH e saúde sexual em França conclui que as pessoas com menos de 30 anos têm menos receio da SIDA do que anteriormente, têm maior probabilidade de acreditar em vias improváveis de transmissão da infeção e menor confiança de que o preservativo ofereça proteção total contra a infeção pelo VIH.

O estudo conclui que apesar do preservativo ser ainda amplamente utilizado e que a sua utilização por pessoas com múltiplos parceiros não ter diminuído, há uma redução do seu uso nos parceiros com relações mais longas, em relações de compromisso.

O estudo francês sobre Conhecimentos, Atitudes, Crenças e Práticas (KABP) foi conduzido em seis ocasiões desde 1992. Conclui que o conhecimento sobre as principais vias de transmissão da infeção pelo VIH, relações sexuais desprotegidas e agulhas não esterilizadas é quase universal, mas nos últimos anos, as pessoas tendem a acreditar na transmissão do VIH por vias que não existem. No estudo mais recente, uma em cada cinco pessoas pensa que se pode contrair a infeção pelo VIH se se usar uma casa de banho pública, e um em cada quatro homens e uma em cada seis mulheres pensa que um mosquito pode transmitir a infeção pelo VIH.

Apesar de a maioria das pessoas considerar que o preservativo oferece algum tipo de proteção contra a infeção pelo VIH, apenas um pouco mais de metade dos respondedores pensa que a proteção é total, em comparação com mais de três quartos nos anos 90.

Enquanto quase metade dos participantes respondeu ter medo de desenvolver SIDA nos anos 90, tal decresceu para um em cada cinco participantes; uma proporção não significativa de uma em seis pessoas afirmou ter medo de outras infeções sexualmente transmissíveis (IST). Contudo, no mesmo período, a proporção de pessoas que pensava ter já contraído a infeção pelo VIH assintomática subiu, para mais de um terço dos respondedores.

Apenas um quarto das mulheres e metade dos homens afirmou ter usado o preservativo na última relação sexual, uma descida de 37% nas mulheres e de 27% nos homens desde os anos 90. O uso do preservativo permanece elevado nas pessoas com múltiplos parceiros e nos homens que têm encontros ocasionais, mas desceu nas relações estáveis. Um em cada cinco homens afirmou não ter tomado medidas contracetivas ou precauções durante a relação sexual, em comparação com um cada dez homens na década de 90.

Comentário: Este estudo revela um quadro misto. É encorajador porque demonstra que o uso do preservativo permanece elevado entre as pessoas com elevado risco de contrair IST ou VIH, mas mostra que menos pessoas o usam em relações estáveis. Tal como comentado pelos investigadores, os jovens podem estar agora mais preocupados com a gravidez do que com a infeção pelo VIH ou podem entender a infeção pelo VIH como um pouco pior que outras infeções sexualmente transmissíveis, tendo o preservativo descido na hierarquia de medidas de saúde sexual.

Número reduzido de intervenções preventivas em clínicas inglesas de infeções sexualmente transmissíveis

Apenas a um número limitado de homens gay é disponibilizado e aceite uma discussão estruturada sobre redução de riscos, de acordo com uma auditoria levada a cabo em 15 clínicas de saúde sexual, em Inglaterra.

O England’s National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE) recomenda que às pessoas que se encontram em risco de ter uma infeção sexualmente transmissível (IST) esta intervenção deve ser disponibilizada. Esta conversa face a face deve ser estruturada com base na teoria da mudança de comportamento e deve demorar pelo menos 15 a 20 minutos. A British Association for Sexual Health and HIV (BASHH) e a British HIV Association (BHIVA) emitem recomendações semelhantes.

Uma revisão dos casos concluiu que quatro em dez doentes recebeu uma intervenção comportamental, mas com frequência tratou-se apenas de aconselhamento. Menos de uma em dez pessoas recebeu uma intervenção estruturada, como recomendado. As intervenções disponibilizadas foram maioritariamente conselhos e entrevista motivacional; alguns homens receberam terapia cognitiva comportamental ou educação entre pares.

A investigação analisou os registos de 598 homens gay e bissexuais seronegativos para a infeção pelo VIH que foram atendidos em junho de 2010. Noventa e dois por cento aceitaram o teste e 43% fez o teste pelo menos mais uma vez no ano seguinte.

Apesar de os registos referirem que 251 homens aceitaram a discussão sobre os riscos, apenas 52 receberam uma intervenção estruturada baseada nas teorias de mudança de comportamento, como recomendado pela NICE. Apenas 42 homens recusaram a discussão sobre comportamentos de risco, não sendo contudo obrigatório registar as recusas.

Os autores recomendam que as razões pelas quais estas intervenções não foram disponibilizadas a homens em risco de infeção pelo VIH devem ser investigadas e entendidas. Havia uma grande variedade no modo como clínicas definem “risco” e os investigadores sugerem que as clínicas de IST precisam de uma ferramenta de avaliação de risco padrão, tal como a desenvolvida pelo estudo PROUD pre-exposure prophylaxis (PrEP). Recomendam que os profissionais de saúde destas clínicas tenham mais recursos e formação para conduzir estas discussões, e que tenham conhecimento sobre as mais recentes orientações.

Comentário: Dado que as recusas não foram muitas vezes registadas, torna-se difícil perceber o porquê de apenas um em cada dez homens do estudo ter recebido a intervenção estruturada recomendada, se maioritariamente poucas foram disponibilizadas ou se houve uma taxa de recusa elevada de qualquer discussão sobre o risco. A experiência do ratreio da infeção pelo VIH em contexto não tradicional sugere que as restrições de recursos e a inexperiência do pessoal  são as razões mais comuns para a intervenção não se realizar, mas o modo como a abordagem sobre o risco é feita também necessita de investigação.

Seminários sobre prevenção da infeção pelo VIH na Europa

Como parte do trabalho de prevenção da infeção pelo VIH na Europa, a NAM está a colaborar com o AVAC na disponibilização de um conjunto de seminários online (conferências telefónicas com apresentação de diapositivos/discussões com diapositivos) para formar e informar ativistas na área da prevenção ou quaisquer pessoas interessadas nos mais recentes desenvolvimentos tecnológicos nesta área.  

O primeiro seminário tem como tema

Contribuições europeias para o desenvolvimento de uma vacina para a infeção pelo VIH

O seminário irá analisar os atuais esforços europeus na investigação de uma vacina para o VIH e disponibilizar uma oportunidade para que os ativistas possam questionar uma variedade de especialistas. O seminário será conduzido em inglês. 

Hora e data: 14:00 Horário do Reino Unido (GMT), terça-feira, 29 de Janeiro

O seminário online tem a duração de 90 minutos e disponibilizará uma perspetiva sobre os esforços europeus para o desenvolvimento de uma vacina para o VIH através de programas nacionais e da Comissão Europeia. Após as apresentações, seguir-se-á uma sessão de perguntas e respostas com especialistas da área.

Para se inscrever no seminário, obter o contacto telefónico e instruções:

Por favor, consulte este link

O próximo seminário, no dia 26 de fevereiro, terça-feira, incidirá na investigação europeia de microbicidas.

Outras notícias recentes

Vacinar os homens para o HPV pode prevenir o cancro anal

Um estudo efetuado com homens gay infetados pelo VIH sobre condições pré-cancerígenas causadas pelo vírus do papiloma humano (HPV), concluiu que 71% dos casos poderiam ter sido prevenidos através de vacinação, com a vacina Gardasil® atualmente disponível e 89% com uma vacina experimental que protege contra nove tipos de cancro associados ao HPV. A British Medical Association apelou recentemente ao governo do Reino Unido para iniciar a disponibilização da vacina do HPV para homens e, também, para mulheres jovens.

Rastreio e aconselhamento com casais leva a aumento do uso do preservativo na África do Sul

Um subestudo do estudo Partners in Prevention conclui que o rastreio e o aconselhamento feitos ao casal, em oposição ao aconselhamento individual, leva a um aumento das taxas do uso consistente do preservativo. Setenta e um por cento das pessoas nos casais que tiveram um resultado positivo para a infeção pelo VIH reportaram ter tido relações sexuais desprotegidas antes de realizar o teste e, um mês mais tarde, tal desceu para 25%. Mas o aconselhamento aos casais que incluiu a discussão do estatuto serológico e de sexo mais seguro reduziu a prevalência de relações sexuais desprotegidas, para apenas 8%.

Clínicas para trabalhadores do sexo reduzem comportamentos de risco

Um outro estudo sul-africano em homens, mulheres e transgéneros trabalhadores do sexo na África do Sul concluiu que a disponibilização de clínicas e unidades móveis direcionadas especificamente para esta população reduziu significativamente as taxas de relações sexuais desprotegidas. O trabalho sexual é criminalizado na África do Sul e poucas investigações sobre este grupo são realizadas. O estudo advoga ainda uma maior disponibilização de  preservativos femininos para as mulheres trabalhadoras do sexo, embora 73% afirme que “gosta”, apenas 44% já utilizou.  

Escolhas do editor de outras fontes

Risco de transmissão da infeção pelo VIH quase zero se o parceiro sexual tem carga viral indetetável

NATAP

Uma revisão de vários estudos realizados em casais heterossexuais serodiscordantes para a infeção pelo VIH estimou uma taxa de transmissão da infeção pelo VIH entre zero e 0,31 por 100 pessoas/ano quando o parceiro seropositivo tem carga viral indetetável por estar sob terapêutica antirretroviral. Tal significa que se 1 000 casais heterossexuais em que o parceiro seropositivo tem carga viral indetetável tiverem sexo durante um ano, esperar-se-ia entre uma a duas transmissões da infeção pelo VIH. Esta taxa de infeção é 550 vezes (99,8%) mais baixa que a taxa de transmissão entre casais em que o parceiro seropositivo não está sob tratamento, observada no estudo HPTN 052 - tratamento como prevenção.

Porque precisamos de um ensaio PrEP para os homens que têm sexo com homens no Reino Unido

Medical Research Council

O UK Medical Research Council (MRC) publicou um memorando detalhado que descreve o que está na base do estudo aberto (estudo PROUD acima mencionado) sobre profilaxia pré-exposição (PrEP) em homens gay. O recrutamento durante a fase experimental teve início em dezembro, e a meio de janeiro, uma das 14 clínicas tinha já completado o recrutamento, sendo o seu início em todos os locais esperado para fins de fevereiro.

Melhores modelos de seringas podem erradicar a transmissão de infeções

Newswise

Alterar o tipo de seringa usada pelas pessoas que injetam drogas pode ajudar a reverter a transmissão da infeção pelo VIH por esta via em países com este tipo de epidemia em oito anos, de acordo com um recente artigo dos investigadores da RTI International e Futures Institute. O estudo apresentado o ano passado mostrou que as chamadas seringas com pouco espaço morto, que contém baixas quantidades de sangue residual, reduziriam drasticamente as taxas de infeção entre as pessoas que usam drogas por via injetada.

Novas advertências sobre o aumento de contrafações em preservativos

BBC Newsbeat

A Entidade Reguladora da Saúde da Grã Bretanha alertou que está a aumentar o número de preservativos contrafeitos introduzidos no país. O Medicines and Healthcare products Regulation Agency (MHRA) afirma que milhões de preservativos foram ilegalmente importados nos últimos 18 meses. Os especialistas de planeamento familiar afirmam que os preservativos falsificados apresentam pouca proteção contra infeções sexualmente transmissíveis e gravidez. Os testes conduzidos a estes preservativos demonstraram uma elevada taxa de rompimento.