A PrEP reduz infeções entre as pessoas que usam drogas por via injetada

O único estudo sobre profilaxia pré-exposição (PrEP) conduzido entre pessoas que usam drogas por via injetada concluiu que houve uma redução até metade no número de infeções pelo VIH (48,9%).

Este é um importante avanço na prevenção do VIH - a PrEP demonstrou, agora, reduzir infeções em vários grupos chave – pessoas que usam drogas injetadas, homens que têm sexo com homens, casais heterossexuais serodiscordantes e bebés (transmissão vertical). Contudo, estudos com jovens mulheres africanas obtiveram resultados desapontantes devido ao facto de poucas mulheres tomarem a medicação regularmente.

O novo estudo, que contou com a participação de 2 413 injetores tailandeses, teve início em 2005, e tem sido fortemente controverso. Os ativistas tailandeses acharam que a PrEP foi disponibilizada como segunda melhor opção, quando a troca de seringas, intervenção de prevenção aprovada, não foi disponibilizada.

 Ao longo de sete anos, os participantes foram randomizados para receber o medicamento antirretroviral tenofovir (PrEP) ou placebo (comprimido sem efeito). A maioria dos participantes dirigiu-se à clínica para receber a medicação fornecida por uma enfermeira e um incentivo financeiro no valor de 70 baht (1,70€) por cada ida. Talvez devido a isto, a adesão e retenção tenham sido relativamente boas para a coorte de utilizadores de drogas injetadas. De acordo com os registos diários, os participantes tomaram os medicamentos do estudo em 84% dos dias e permaneceram no estudo em média quatro anos. Tal como em outros estudos PrEP, as pessoas que tomaram a medicação de forma consistente, tinham níveis de proteção mais elevados.

Cinquenta dos 2 413 participantes foram infetados pelo VIH durante o período do estudo – 17 estavam no grupo PrEP e 33 no grupo placebo. Estes resultados indicam que a PrEP preveniu metade (48,9%) das novas infeções pelo VIH.

Comentário: Vários aspetos do estudo requerem análise posterior. Talvez devido ao aconselhamento sobre redução de riscos e à terapêutica de substituição opiácea (mas não troca de seringas) que os participantes receberam, o consumo por via injetada e partilha de material de injeção diminuiu significativamente durante o tempo de permanência no ensaio. Ocorreram menos infeções pelo VIH previstas pelos investigadores no braço de controlo, e alguns especialistas pensam que a PrEP pode ter prevenido a transmissão por via sexual. O uso de toma diretamente observada e de incentivos financeiros relativamente generosos apontam para uma maneira eficaz de manter a adesão desta população e levantam questões sobre a aplicabilidade das conclusões em serviços onde este tipo de apoio não é disponibilizado. Além disso, é claro que a PrEP não deve ser vista como substituta de programas de troca de seringas, mas incluída como parte de programas de prevenção em paralelo com a disponibilização de agulhas e seringas esterilizadas, terapêutica de substituição opiácea, serviços de saúde acessíveis, remoção de leis punitivas e trabalho conjunto com a policia e órgãos policiais. 

É melhor direcionar a prevenção combinada para grupos em maior risco

Uma análise sobre opções de prevenção no Vietname – um país onde a epidemia do VIH é do tipo concentrada entre as pessoas que usam drogas por via injetada e outros grupos em risco – salientou as vantagens de direcionar a abordagem “testar e tratar” para os grupos em situação de maior vulnerabilidade, em vez da população geral.

Os investigadores desenvolveram um modelo matemático baseado nas tendências de prevalência da infeção pelo VIH na província vietnamita de Can Tho.

O modelo sugere que disponibilizar anualmente o teste do VIH a todos os adultos e iniciar de imediato tratamento às pessoas com um resultado positivo, pode reduzir o número de novas infeções até 80%. Contudo, tal implicaria triplicar o orçamento para o tratamento antirretroviral e o rastreio.

O rastreio anual e o tratamento imediato após o diagnóstico direcionado às pessoas que injetam drogas alcançaram resultados quase tão bons (menos 75% de diagnósticos). Os custos estimados foram de apenas 7% acima dos associados à manutenção dos níveis de tratamento e cobertura na prevenção existentes.

Foi mais eficaz direcionar a prevenção aos grupos em risco acrescido que são relativamente pequenos. Por exemplo, há cerca de 2 000 mulheres trabalhadoras do sexo em Can Tho, mas que têm cerca de 62 000 clientes. Enquanto estes homens (e suas parceiras) estão em risco, chegar até eles com um programa de rastreio poderá acrescentar custos consideráveis ao programa.

A estratégia mais custo-eficaz combinou a abordagem “testar e tratar” para as populações em risco elevado, com terapêutica de manutenção de metadona e aumento substancial do uso do preservativo.

Comentário: Se por um lado a conclusão desta análise foi que a prevenção combinada pode “eliminar” a epidemia da província em 15 anos, o modelo tinha algumas premissas utópicas. Foi assumido que todos os membros da população poderiam ser alcançados pelos profissionais de saúde e que aceitariam a oferta do rastreio do VIH, e que a terapêutica antirretroviral poderia ser disponibilizada a todas as pessoas com diagnóstico positivo. Mas o mais interessante é o que o modelo mostra sobre a importância das intervenções corretamente direcionadas a populações em risco, que contribuem para valores desproporcionados da epidemia. Estas conclusões sobre epidemias concentradas são, também, interessantes para o contexto europeu.

Homens gay europeus atravessam fronteiras

O recente relatório divulgado pelo European Men Who Have Sex with Men Internet Survey (EMIS) contém dados sobre comportamentos e necessidade de prevenção do VIH entre os homens que têm sexo com homens que vivem na Europa. Com mais de 180 000 participantes de 38 países europeus, é o maior estudo internacional sobre homens que têm sexo com homens alguma vez conduzido.

Alguns dos dados dizem respeito a homens gay migrantes – por outras palavras, homens que não vivem no seu país de origem e que compõem 12% da amostra. No Luxemburgo, Chipre, Reino Unido e Suíça, mais de um quarto dos respondedores foram migrantes. Muito frequentemente, os migrantes eram oriundos de países europeus vizinhos, apesar de alguns serem de países mais longínquos (como por exemplo, um número elevado de homens latino-americanos em Espanha e Portugal).

Os homens migrantes tinham uma probabilidade superior (17%) comparativamente aos nacionais de dizerem que eram seropositivos para a infeção pelo VIH, e 21% de maior probabilidade de terem sido recentemente diagnosticados com uma infeção sexualmente transmissível (IST). Porém, tinham 26% mais probabilidade do que os homens não-migrantes de reportar dificuldade de acesso ao rastreio do VIH e 32% mais probabilidade de terem problemas em aceder ao rastreio de IST.

O questionário integrava também perguntas sobre se os homens tinham relações sexuais fora do país, em férias ou em viagens de trabalho. Um quarto dos inquiridos respondeu ter tido relações sexuais no estrangeiro no ano anterior, tendo a maioria apontado países como Espanha ou Alemanha. Os homens diagnosticados com VIH muitas vezes reportaram ter tido relações sexuais anais desprotegidas – um comportamento também reportado nos países de origem.

Estes dados acrescentam informações ao estudo reportado no boletim do mês passado, que evidenciava clusters de transmissão através das fronteiras europeias.

Comentário: A elevada prevalência do VIH e IST entre os homens migrantes e a dificuldade no acesso a serviços especializados na infeção pelo VIH e rastreio gratuitos e acessíveis monetariamente, demonstram que as intervenções precisam de ser adaptadas ou direcionadas a este grupo. Contudo, os “homens migrantes” são um grupo muito diversificado, incluindo os homens que migram por razões económicas e outros que fogem de ambientes sociais hostis. É pouco provável que as suas necessidades e experiências sejam as mesmas. O questionário concluiu também que os homens que têm relações sexuais no estrangeiro, conhecem, muitas vezes, os parceiros na internet, sugerindo que a promoção de saúde para as pessoas que viajam pode também ser promovida online.

Homens gay europeus compram e vendem sexo

Oestudo European Men Who Have Sex with Men Internet Survey (EMIS) demonstra também que 8% dos gay e outros homens que têm sexo com homens (HSH) na Europa pagaram para ter sexo no ano anterior, e que 5% foram pagos para ter sexo no mesmo período.

A maioria dos homens que comprou ou vendeu serviços sexuais, apenas fê-lo uma ou duas vezes no ano anterior. Tal sugere que o termo “trabalhador sexual” seria inadequado para muitos dos que venderam serviços sexuais, que aparentemente o fizeram devido a trocas oportunas.  

Enquanto os homens com idade superior a 40 anos tinham dez vezes mais probabilidade do que os outros de pagar por sexo, os homens com idade inferior a 25 anos tinham oito vezes mais probabilidade de serem pagos por isso.

Os homens com mais de cinquenta parceiros sexuais por ano tinham maior probabilidade de tanto comprar como vender serviços sexuais do que os outros homens. Muitas das outras associações foram semelhantes nas pessoas que vendiam ou compravam – sentir-se sozinho, identificar-se como bissexual e usar substâncias ilícitas.

Além disso, os homens pagos para terem relações sexuais tinham maior probabilidade de estarem desempregados e de terem menos escolaridade. Tinham maior probabilidade de reportar relações sexuais anais desprotegidas, de terem uma IST recente e de serem diagnosticados com infeção pelo VIH.  

Comentário: Como salientado pelos investigadores, nem comprar ou vender serviços sexuais envolve automaticamente um risco acrescido de infeção pelo VIH. Contudo, é provável existirem fatores económicos e relacionais que levam os homens a vender sexo e a aumentar a vulnerabilidade à infeção pelo VIH. Tanto os homens que compraram como os que venderam sexo reportaram múltiplos parceiros e uso de drogas, associado a um aumento do risco de contrair a infeção.

Crítica ao conceito de “carga viral comunitária”

Nos últimos anos, alguns investigadores têm sugerido que o aumento do rastreio do VIH e tratamento em cidades como S. Francisco e Vancouver tem resultado na diminuição da média da carga viral nestes locais. E têm argumentado que a média ou carga viral na “comunidade” pode explicar a recente diminuição de infeções pelo VIH nestas cidades.

Contudo, agora, os especialistas identificaram alguns problemas técnicos relacionados com o conceito de carga viral comunitária. Os especialistas não dizem que a carga viral e a infecciosidade não são importantes mas que são difíceis de medir na comunidade. Acrescentam que outros fatores precisam de ser considerados para explicar as taxas do VIH.

Um problema é o facto de a estimativa da carga viral na comunidade se basear nos resultados da carga viral das pessoas diagnosticadas pelo VIH que receberam cuidados médicos. As pessoas por diagnosticar e as pessoas que desistiram dos cuidados de saúde têm maior probabilidade de ter valores de carga viral muito diferentes.

Um outro problema é que o risco de uma pessoa seronegativa para o VIH contrair a infeção através de um novo parceiro sexual depende não só da infecciosidade média da pessoa com VIH, mas também da probabilidade de o novo parceiro ser seropositivo para o VIH. Por outras palavras, a prevalência precisa ser tida em conta.

Comentário: Os autores propõem uma medida alternativa, que afirmam refletir com maior precisão a infecciosidade do VIH na comunidade. Recomendam calcular a proporção de pessoas com VIH detetável em toda a população (i.e. pessoas seronegativas e seropositivas para o VIH). Presumia-se que as pessoas por diagnosticar teriam o vírus detetável. Calculando este dado requereria ter uma boa estimativa do número de pessoas com VIH por diagnosticar.

Seminários online sobre prevenção da infeção pelo VIH na Europa – próxima geração de preservativos

Como parte do trabalho de prevenção da infeção pelo VIH na Europa, a NAM está a colaborar com a AVAC na disponibilização de um conjunto de seminários online (conferências telefónicas com apresentação de diapositivos) para formar e informar ativistas na área da prevenção ou outras pessoas interessadas nos mais recentes desenvolvimentos tecnológicos nesta área.

O sexto seminário tem como tema:

Próxima geração de preservativos: perspetiva europeia

O próximo seminário terá como foco a próxima geração de preservativos masculinos e femininos a serem introduzidos para ir ao encontro de necessidades específicas da prevenção do VIH

Hora e data: 2pm, horário do Reino Unido (horário de verão), terça-feira, 23 de julho (3pm CEST)

Para se inscreverno seminário, obter o contacto telefónico e instruções clique neste link:

https://cc.readytalk.com/cc/s/registrations/new?cid=ozflmhnrw3zl

Como habitual, às apresentações seguir-se-á uma sessão de perguntas e respostas. As perguntas podem ser submetidas antecipadamente para info@avac.org. O seminário tem a duração de 90 minutos e tem como Chair Rebekah Webb, da AVAC.

Outras notícias recentes

Decidir o que é de risco – homens gay australianos focam-se mais no ato sexual do que no estatuto serológico ou carga viral do parceiro

Os homens gay seronegativos para o VIH em Sidney, na Austrália, entendem que o risco de transmissão é diferente nos diferentes contextos sexuais, de acordo com um estudo do Dr. Limin Mao e colegas, reportado na edição de maio da revista AIDS & Behavior. Contudo, os homens dedicam maior atenção ao uso do preservativo, a relações sexuais sem ejaculação e ao papel sexual do que aos parceiros reportarem o estatuto serológico ou carga viral na medição do risco de infeção.

As mulheres trabalhadoras do sexo receberam frequentemente ofertas de mais dinheiro para relações sexuais sem preservativo

A procura por parte dos clientes de relações sexuais desprotegidas está a contribuir para a epidemia do VIH entre as mulheres que fazem trabalho sexual, de acordo com a investigação canadiana publicada online no Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes. Os investigadores de Vancouver concluíram que a aproximadamente três quartos das trabalhadoras do sexo era proposto mais dinheiro pelos clientes para terem relações sexuais sem preservativo e 19% aceitou. As mulheres transgénero tinham maior probabilidade de aceitar dinheiro extra para relações sexuais desprotegidas, tal como mulheres que tinham passado por episódios de violência por parte dos clientes e as utilizadoras de metanfetaminas.

Grandes melhorias no rastreio da infeção pelo VIH são possíveis – precisa-se de liderança local e várias iniciativas

Em Brighton & Hove, a proporção de novos diagnósticos de infeções pelo VIH que são realizados fora das clínicas de saúde sexual e clínicas pré-natal aumentou de 25,7% em 2000 para 57,8% em 2012, devido à melhoria do rastreio do VIH nos cuidados primários e em contexto comunitário. Mais, tem ocorrido uma profunda melhoria no diagnóstico de novas infeções pelo VIH.

A maioria parte dos especialistas italianos na área do VIH prescreveria PrEP

Setenta por cento dos especialistas do VIH italianos que responderam a um questionário online prescreveriam a profilaxia pré-exposição (PrEP) às pessoas a seu cuidado que a pedissem, pelo menos em algumas circunstâncias, segundo conclui o estudo.

Escolhas do editor de outras fontes

VIH na Europa

Organizações de saúde internacionais publicaram diversos relatórios sobre o VIH na Europa no mês passado.

O Banco Mundial, a Organização Mundial de Saúde e a London School of Hygiene and Tropical Medicine divulgaram um relatório que conclui que fatores sociais e estruturais- como pobreza, marginalização e estigma- e não apenas comportamentos individuais, aumentam a epidemia do VIH na Europa e Ásia central. O relatório afirma que a prevenção eficaz requer mudanças sociais e ambientais – as barreiras para uma resposta ao VIH incluem a criminalização do trabalho sexual, do sexo entre homens e do uso de drogas, aliadas à estigmatização social, violência e violação de direitos.

O European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) emitiu uma série de relatórios sobre a forma como os governos europeus têm respondido à infeção pelo VIH, cobrindo políticas e financiamento do tratamento antirretroviral e prevenção do VIH, especialmente para populações chave. O ECDC emitiu ainda um relatório que descreve e avalia a politica e práticas de notificação de parceiros na Europa e um relatório sobre monitorização de infeções pelo VIH recentes.

O European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction (EMCDDA) divulgou o seu relatório anual sobre drogas, observando um nível recorde de disponibilização do tratamento e alguns sinais de redução do número de injetores.

Rússia aprova lei que bane a “propaganda” gay

Fonte: Wall Street Journal

O parlamento russo aprovou uma lei, este mês, que proíbe “propaganda de relações sexuais não tradicionais”, criminaliza eventos gay, a defesa dos direitos dos homossexuais ou afirmação de que as relações gay são iguais às relações heterossexuais. Embora aparentemente tenha como intenção proteger os menores de idade, a lei é tão abrangente que, na realidade, equivale a uma proibição total.

Próximos passos para a PrEP: obter uma opção de prevenção para quem dela necessita

Fonte: GMHC Treatment Issues

Homens e mulheres precisam de novas opções de prevenção que possam – e queiram – utilizar. Para algumas pessoas, é um comprido diário. Mas os ensaios de PrEP ensinaram-nos que as ferramentas biomédicas têm de ser trabalhadas nas realidades complexas das vidas das pessoas. O desafio é encontrar combinações de necessidades tanto dos homens como das mulheres, e disponibilizar os meios corretos no tempo certo.

Ir além daquele-que não-deve-ser-nomeado: alternativas à troca de seringas

Fonte: Huffington Post

Face à resistência em implementar programas de troca de seringas, alguns estados norte-americanos devem querer manter-se afastados daquele-que-não-deve-ser-mencionado e considerar métodos alternativos para o acesso a seringas e redução de doenças, tal como mudanças na aquisição de seringas, sanções e distribuição das mesmas.