Novembro de 2015

Notícias da conferência

Michel Kazatchkine, orador da EACS 2015. Créditos: mtvisuals.com

O United Nations Secretary-General’s Special Envoy on HIV and AIDS para a Europa de Leste e Ásia Central afirmou na sessão de abertura da 15ª Conferência Europeia sobre SIDA, que decorreu no passado mês em Barcelona, que a região europeia precisa acelerar o ritmo das atividades de prevenção e tratamento, caso queira alcançar a meta da ONUSIDA de conseguir ter 90% das pessoas que vivem com VIH diagnosticadas, 90% das pessoas diagnosticadas sob tratamento antirretroviral e 90% das pessoas sob tratamento antirretroviral com carga viral indetetável até 2020.

“A Europa não resolveu o problema da SIDA e não há lugar para condescendência”, declarou o Professor Michel Kazatchkine aos delegados. “Se não intensificarmos o nosso trabalho nos próximos cinco anos, não conseguiremos travar a epidemia”. Salientou os baixos níveis de rastreio entre os homens que têm sexo com homens e as taxas preocupantemente baixas do tratamento e retenção nos cuidados de saúde entre pessoas seropositivas para o VIH na Europa de Leste como dois dos maiores problemas que devem de ser solucionados.

Kazatchkine falava numa das três reuniões internacionais nas quais a equipa do aidsmap.com participou recentemente.

O nosso site tem páginas dedicadas à 15ª Conferência Europeia sobre SIDA e à 24ª Conferência Internacional sobre Redução de Danos e nelas é também possível consultar os boletins de notícias com resumos das mesmas.

Também estivemos presentes na quarta cimeira da IAPAC – Controlling the HIV Epidemic with Antiretrovirals. Poderá consultar no nosso site as notícias sobre os progressos em direção a um melhor acesso ao tratamento apresentadas durante o encontro.

Pelo menos 25 000 pessoas poderão estar agora a tomar PrEP nos Estados Unidos da América

De acordo com o afirmado no passado mês durante a quarta cimeira IAPAC – Controlling the HIV Epidemic with Antiretrovirals, em Paris, até 30 000 pessoas nos Estados Unidos da América (E.U.A.) podem estar a tomar a profilaxia pré-exposição (PrEP) para prevenir a infeção pelo VIH. Um inquérito realizado em farmácias que dispensam PrEP contabilizou 8 512 pessoas a quem fora prescrito o Truvada® (tenofovir/emtricitabina) como PrEP no início de 2012, correspondendo a mais do dobro das prescrições relativamente ao ano anterior. Porém, o verdadeiro número de pessoas sob PrEP é consideravelmente mais elevado. Apenas 36% das farmácias do país estão a participar no inquérito, pelo que, se as farmácias que não participam no estudo prescreverem tanto quanto as que participam, podem existir quase 22 000 prescrições desta profilaxia desde 2012. Além da prescrição da PrEP em farmácias, estima-se que 8 000 pessoas estejam a receber a profilaxia em estudos de demonstração, através do sistema Medicaid dos E.U.A. ou através do programa de assistência da farmacêutica Gilead, produtora do Truvada®. Isto representa quase 30 000 pessoas, embora os números possam ser um pouco inferiores, visto que as farmácias que não participam no inquérito podem estar a prescrever em menores quantidades e algumas pessoas podem já ter interrompido a toma.

De forma oposta, os conferencistas europeus presentes na cimeira IAPAC expressaram a sua frustração com os lentos progressos em direção à disponibilização da PrEP no continente. Jean-Michel Molina, investigador principal do estudo Ipergay, afirmou que o Ministro da Saúde francês pediu a um painel de peritos e ao Conselho Nacional sobre SIDA que emitissem recomendações sobre a disponibilização da PrEP “mas não demasiado cedo”. Afirmou que isto representava uma situação potencialmente perigosa, havendo cada vez mais pessoas a pedir a profilaxia e, tal como documentado recentemente num inquérito da AIDES (link em francês), um aumento das taxas de uso informal e pedidos de profilaxia pós-exposição (PPE) como forma de obter a PrEP. Sheena McCormak, do estudo PROUD, afirmou que os receios de uma procura elevada e difícil de comportar em termos financeiros pela PrEP estão mal direcionados: “Creio que teremos dificuldade em fazer com que todas as pessoas que necessitam da PrEP reconheçam ou aceitem que se encontram em situações de vulnerabilidade suficientemente elevadas que justifiquem a toma”, comentou.

Dominique Costagliola, da ANRS, agência francesa de investigação na área do VIH, declarou que apesar de 94% das pessoas diagnosticadas com a infeção pelo VIH em França se encontrarem sob terapêutica antirretroviral (TAR), a prevalência da infeção entre os homens que têm sexo com homens (HSH) era agora de 17% e a incidência anual de 1,04% - seis vezes a taxa entre as pessoas que usam drogas por via injetada e 13 vezes a taxa entre as mulheres que não têm nacionalidade francesa, os outros dois grupos em situação de maior vulnerabilidade. “Há uma situação crítica entre os HSH na Europa”, afirmou, “é improvável que venha a ser controlada através de um aumento do número de rastreios e da disponibilização da TAR no momento do diagnóstico”.

Comentário: A PrEP poderá não ser o “comprimido mágico” que reduz a taxa de infeções pelo VIH entre homens gay – é demasiado cedo para o afirmar, embora Bob Grant, do estudo iPrEx, tenha apresentado na mesma reunião dados de São Francisco que sugerem que a PrEP pode estar a começar a ter impacto nos novos diagnósticos entre os homens gay. Independentemente do impacto da PrEP ao nível da saúde pública, a sua indisponibilização na Europa está a tornar-se um escândalo – e algo perigoso se os homens gay continuarem a comprar PrEP na internet ou através de amigos e se começarem a toma sem monitorização adequada. A Dean St. Clinic, em Londres, está a disponibilizar uma consulta de PrEP privada e análises para aqueles que compram a PrEP através da internet. Jean-Michel Molina anunciou na Conferência Europeia sobre SIDA que será aberta brevemente uma clínica semelhante em Paris.

A maioria de migrantes a viver com VIH na Europa contraiu infeção no país de acolhimento

Um estudo apresentado no passado mês na 15ª Conferência sobre SIDA concluiu que há evidência de que a maioria das pessoas migrantes que vivem com VIH na Europa, diagnosticadas nos últimos cinco anos, provavelmente infetaram-se no país para onde migraram e não no país de origem. O estudo aMASE concluiu que a proporção de pessoas com uma data de aquisição da infeção pelo VIH, provável ou documentada, após migrarem para ou dentro da Europa era mais elevada que a das pessoas com data de infeção pré-migração provável ou documentada, algo que se aplica a todos os grupos vulneráveis, todas as regiões de origem e a ambos os sexos. A data de infeção não pôde ser estimada em muitos casos. Mas mesmo entre pessoas da África Subsaariana, enquanto 22% daqueles que vivem com VIH na Europa tinham provavelmente contraído a infeção no seu país de origem, 31% tinham-na contraído no país de acolhimento. A predominância de infeções pelo VIH contraídas no continente Europeu era muito mais elevada entre pessoas de outras regiões do mundo, maioritariamente homens gay. 68% das pessoas da América Latina e Caraíbas tinham provavelmente contraído a infeção pelo VIH após terem migrado e 8% antes, 57% dos asiáticos após e 18% antes de iniciarem o processo de migração, 60% dos europeus ocidentais após e 8% depois e 69% dos europeus de leste contraíram a infeção depois e 12% antes.

Contrair a infeção pelo VIH no país de acolhimento foi entre três a oito vezes mais provável do que no país de origem. Porém, este fenómeno não é exclusivo dos homens gay: 36% dos heterossexuais, homens e mulheres, infetaram-se no país de acolhimento e apenas 18% das mulheres e 13% dos homens se infetou no país de origem. Débora Álvarez del Arco, do estudo aMASE, apelou à realização de mais estudos sobre a população migrante vulnerável à infeção pelo VIH nos países de acolhimento.

Comentário: Os métodos deste estudo indicam que a data de infeção é apenas uma estimativa na maioria dos casos, mas os resultados são surpreendentes de qualquer modo: entre heterossexuais africanos e sobretudo nos homens gay, a Europa é agora um local de maior risco de infeção pelo VIH que os países de origem (e a Europa Ocidental para migrantes da Europa de Leste). Isto pode dever-se a vários motivos, sendo a liberdade que a mudança de país permite um e um aumento relativo da prosperidade outro. Porém, e de igual modo, o racismo e exploração, incluindo em ambientes gay, a solidão e ausência de apoio de pares podem desempenhar um papel. Um facto digno de registo é o reduzido número de grandes cidades com maior número de pessoas em situação de vulnerabilidade à infeção pelo VIH que disponibilizam informações sobre a infeção e apoio dirigido a migrantes, sobretudo informação na língua mãe.

Trabalho de pares melhora o envolvimento das pessoas que usam drogas no tratamento antirretroviral na Ucrânia

De acordo com os resultados iniciais apresentados no passado mês na 24ª Conferência Internacional de Redução de Danos, em Kuala Lumpur, um programa inovador no qual pares usam uma abordagem de gestão de casos para ajudar as pessoas que usam drogas por via injetada e que vivem com infeção pelo VIH a envolverem-se nos serviços médicos e a iniciar a terapêutica antirretroviral, parece estar a ter resultados positivos. A International HIV Alliance, na Ucrânia, estava preocupada porque apesar de estar já implementado o encaminhamento das pessoas que usam drogas por via injetada para os serviços estatais de tratamento antirretroviral, eram poucas as pessoas que efetivamente eram ligadas e retidas nos cuidados de saúde. Esta nova abordagem envolveu trabalhadores de pares de redução de danos a mudar o foco do seu trabalho da troca de seringas para, além disso, ajudar as pessoas seropositivas para o VIH a integrarem os cuidados de saúde. O objetivo é melhorar a cascata do tratamento para o VIH deste grupo-chave na epidemia ucraniana. Os trabalhadores de pares têm um papel de mediação entre os doentes e os profissionais de saúde, trabalhando para que os primeiros recebam os serviços a que têm direito.

Três quartos dos utentes do projeto foram integrados nos cuidados de saúde, valor que pode ser comparado aos 35% das pessoas seropositivas para o VIH na Ucrânia que injetam drogas e que não participam no programa, e 26% estavam sob terapêutica antirretroviral (TAR), comparado com 9% naqueles que não participaram no programa. Estes valores continuam a ser demasiado baixos, em parte porque as pessoas com contagem de células CD4 superior a 350 células/mm3 (41% dos utentes do projeto) não são elegíveis para tratamento de acordo com as orientações terapêuticas do país. Além disso, mantêm-se algumas barreiras significativas no sistema de saúde – falta de vontade de tratar as pessoas que continuam a usar drogas e interrupções na disponibilização de medicamentos antirretrovirais.

“Algumas pessoas não gostam dos médicos e dos hospitais, sobretudo as pessoas estigmatizadas, como são alguns dos nossos utentes”, comentou Pavlo Smyrnov da International HIV/AIDS Alliance da Ucrânia. “Mas também ouvimos médicos que dizem aos seus doentes que estes têm primeiro de deixar de usar drogas para só depois pensarem no tratamento antirretroviral. Nos casos mais extremos, alguns médicos pediram aos utentes para assinar uma declaração por escrito onde afirmam que não irão iniciar a TAR até terem parado de consumir”.

Comentário: Ainda é demasiado cedo para nos entusiasmarmos com projetos que pretendem envolver mais pessoas nos cuidados de saúde na Europa de Leste e melhorar as preocupantes taxas de cobertura da TAR e supressão viral. No entanto, projetos destes serão um sinal de mudança se os serviços nacionais de saúde e as ONG os começarem a apoiar.

Inquérito de uma clínica londrina mostra impacto do chemsex

Um inquérito dirigido a homens gay em Londres que usam drogas durante as relações sexuais – chemsex – encontrou elevados níveis de sexo desprotegido e infeções pela hepatite C entre homens seropositivos e seronegativos para o VIH, elevados níveis de uso da profilaxia pós-exposição (PPE) e uma elevada frequência de consumo de drogas por via injetada. O estudo inclui 874 homens que frequentaram durante um ano um serviço de apoio ao chemsex na clínica 56 da Dean Street, a clínica de saúde sexual mais frequentada de Londres. A 56 Dean Street atende aproximadamente 11 000 pessoas por mês, sendo 7 000 destes homens que têm sexo com homens, dos quais aproximadamente 3 000 usam drogas. O serviço de apoio ao chemsex atende cerca de 100 homens gay por mês. Os homens que frequentavam a clínica eram um grupo auto selecionado que se preocupava com o consumo de drogas durante as relações sexuais, contudo, inquéritos anteriores em Londres reportaram que pelo menos 19 a 25% dos homens que frequentam serviços de saúde sexual afirmaram usar drogas recreativas durante as relações sexuais.

No total, 32% dos homens viviam com VIH (280 homens). Este número incluiu 42 homens que não estavam sob tratamento antirretroviral e a maioria destes reportou não usar preservativo (64%). As pessoas a viver com VIH relataram ter aumentado o consumo de drogas durante as relações sexuais após terem sido diagnosticadas. Entre os homens sob tratamento, o uso de preservativo era algo superior, mas 25% reportou não o usar de todo e 10% dos homens seronegativos para o VIH também afirmaram não o usar. Os 30% dos homens seronegativos para o VIH que frequentaram a clínica tinham tomado a PPE pelo menos uma vez nos últimos dois anos e 25% tinha-a tomado entre duas a dez vezes nos dois anos anteriores. De forma não surpreendente, havia um grande interesse na profilaxia pré exposição (PrEP): 42% dos homens mostraram-se interessados em tomá-la, mas um terço não tinha qualquer informação sobre esta.

A infeção pela hepatite C (VHC) também foi muito prevalente entre os homens que frequentavam a clínica: 12% dos homens tiveram um resultado positivo no rastreio para esta infeção pelo menos uma vez e pouco mais de metade dos homens com um resultado positivo eram seronegativos para a infeção pelo VIH (52%). 29% de todos os homens que frequentavam a clínica afirmaram já ter consumido drogas por via injetada, mas 46% das pessoas com resultados positivos para a infeção pelo VHC afirmaram nunca ter consumido por essa via, o que indica uma elevada frequência de transmissão por via sanguínea durante as relações sexuais.

Comentário: Este é um subgrupo de homens que se autorreferenciaram no número 56 da Dean Street e que estavam particularmente preocupados com o seu consumo de drogas durante as relações sexuais, pelo que não serão representativos dos utentes da clínica ou dos homens gay de Londres em geral. De certa modo, isso não é relevante: este é um pequeno retrato do grupo mais vulnerável de homens gay no Reino Unido, aqueles que o estudo iPrEx afirmou estarem em risco “iminente” para a infeção pelo VIH. Mesmo nesta amostra, o estudo encontrou um subgrupo num risco ainda mais elevado: aqueles com um diagnóstico recente de infeção pelo VIH, que também podem estar entre a minoria que não se encontra sob terapêutica antirretroviral, e cujos níveis de risco e uso de drogas nos podem dar algumas informações sobre a sua saúde mental, crises e o tipo de apoio que de que necessitam nestes momentos. Aquilo que é necessário agora é um inquérito longitudinal dirigido aos utentes da clínica, de modo a se perceber por quanto tempo são sustentados estes períodos de risco e que tipo de serviços de prevenção melhor responderia às suas necessidades nesses momentos.

Perda óssea modesta entre homens jovens a tomar Truvada® como PrEP

De acordo com as conclusões apresentadas na 15ª Conferência Europeia sobre SIDA, os participantes no ATN 110, um projeto de demonstração da profilaxia pré-exposição (PrEP) para homens com idades entre os 18 e os 22, encontrou uma perda óssea modesta, mas significativa após o início da toma do Truvada®. A componente de tenofovir do Truvada® é geralmente considerada segura e bem tolerada, porém sabe-se que causa uma pequena perda óssea nas pessoas que o tomam como antirretroviral – de facto, um outro estudo apresentado na conferência, confirmou que as pessoas que iniciam a terapêutica antirretroviral perdem cerca de 2% da densidade mineral óssea no primeiro ano.

A massa óssea atinge o seu auge no início da idade adulta – por volta dos 20 anos – após a qual começa a decair gradualmente. O auge da massa óssea é um preditor importante para o risco de fratura ao longo da vida, pelo que qualquer perda da mesma em pessoas jovens pode ser especialmente significativa – e a idade média dos participantes no ATN 110 era de 20 anos.

Os níveis de densidade mineral óssea (DMO) no início do estudo foram mais baixos que o esperado, ficando abaixo das normas para a idade e raça/etnia: 8,1% dos participantes tinham DMO na coluna, 6,1% tinham DMO nas ancas e 3,7% tinham a DMO em todo o corpo abaixo dos limites padrão internacionais para baixa massa óssea. Seis meses após iniciarem o Truvada®, a densidade mineral óssea diminuiu na coluna (em cerca de -0,2%), anca (em cerca de -0,4%) e em todo o corpo (em cerca de -0,8%), sendo as duas últimas alterações estatisticamente significativas. Às 48 semanas, a DMO da anca continuou a decrescer acentuadamente (uma queda de cerca de -1,0%) e a DMO de todo o corpo a decresceu numa pequena quantidade, mas a DMO da coluna começou a aumentar, tendo aliás crescido acima dos níveis do início do estudo. Contudo, a adesão no ATN 110 diminuiu com o tempo, e à semana 48 cerca de um terço dos participantes tinham ainda níveis do medicamento muito protetores. A perda óssea às 48 semanas estava relacionada com a exposição ao tenofovir. Os homens com níveis de tenofovir muito protetores apresentaram uma perda óssea na coluna de cerca de 1,5% à 48ª semana, enquanto aqueles com carga viral indetetável viram a sua densidade óssea a aumentar aproximadamente o mesmo valor.

Comentário: É importante que não se fique demasiado preocupado com este estudo, pois a perda óssea observada – sensivelmente ao mesmo nível da encontrada em pessoas sob tratamento antirretroviral – não foi clinicamente significativa ou associada a fraturas. De qualquer modo, devemos estar alertas para os efeitos secundários de um medicamento preventivo, sobretudo porque os homens gay que iniciem a PrEP na adolescência podem aderir e interromper a medicação durante alguns anos ou ao longo das suas vidas. A melhor situação, claro, seria a realização de estudos que permitam a utilização de outros medicamentos como PrEP.

 

Hepatite C mantem-se constante entre homens gay seropositivos para o VIH na Europa, mas varia entre regiões

De acordo com uma apresentação feita na 15ª Conferência Europeia sobre SIDA, os investigadores não encontraram qualquer redução nas infeções pelo vírus da hepatite C (VHC) entre homens seropositivos para o VIH que têm sexo com outros homens (HSH) em 16 coortes europeias. A análise usou dados de quase 6 000 homens em 16 das 29 coortes CASCADE de seroconvertores pelo VIH ou pessoas com datas bem estimadas de infeção. As coortes foram incluídas se pelo menos metade dos HSH participantes tivessem feito o rastreio para a hepatite C (VHC) usando testes de anticorpos ou RNA VHC. A incidência da infeção pelo VHC foi calculada usando dois métodos. Fazendo a média dos dois métodos, ao longo de um período de acompanhamento em média de quatro anos, estima-se que tenham ocorrido pouco mais de 3 000 infeções. A incidência anual do VHC aumentou de forma constante, de cerca de 0,15% por ano em 1990 (uma por 670 homens por ano) para cerca de 2% por ano (uma em 50) em 2014.

As tendências de incidência do VHC variam de acordo com as regiões. Enquanto as novas infeções por VHC ainda parecem estar a crescer na Europa do Sul e do Norte, a incidência na Europa Ocidental parece estar a estabilizar. Numa análise multivariada, a probabilidade de infeção pelo VHC era maior entre homens com uma carga viral do VIH mais elevada, embora este estudo não tivesse encontrado uma associação significativa com a contagem CD4.

Comentário: É interessante que este estudo tenha encontrado uma associação bastante significativa entre a infeção pela hepatite C e a carga viral para o VIH: estas eram coortes de homens que já viviam com VIH, pelo que não se deve a infeções pelo VIH e VHC em simultâneo. Pode ser causada por um terceiro fator: períodos de risco e vulnerabilidade, tal como indicado no estudo sobre chemsex referido na notícia anterior, podem incluir quer situações de maior vulnerabilidade para o VHC como uma fraca adesão à TAR. É possível que os elevados níveis de VIH no corpo possam facilitar a infeção pelo VHC através de processos inflamatórios. Qualquer que seja a causa, o risco de infeção pelo VHC em homens gay seropositivos para o VIH é agora praticamente o mesmo que o risco de infeção pelo VIH em homens seronegativos.

 

Outras notícias breves

EACS concordam com tratamento no momento do diagnóstico e recomendam PrEP diária ou intermitente

As novas orientações clínicas para o VIH da European AIDS Clinical Society (EACS), lançadas na 15ª Conferência Europeia sobre SIDA, colocam a Europa em sintonia com o resto do mundo ao recomendarem o tratamento antirretroviral para todas as pessoas no momento do diagnóstico. As novas orientações também incluem uma recomendação positiva para a profilaxia pré-exposição (PrEP), pondo-as em sintonia com os E.U.A., a OMS e a BHIVA. A PrEP é “recomendada” para “homens que têm sexo com homens e pessoas transgénero que usam o preservativo de forma inconsistente com parceiros ocasionais ou com parceiros seropositivos para o VIH que não se encontrem sob tratamento” e “pode ser considerada” para “homens e mulheres heterossexuais que usem o preservativo de forma inconsistente e que têm uma grande probabilidade de ter parceiros sexuais seropositivos para o VIH que não se encontrem em tratamento”. As linhas orientadoras recomendam que a PrEP seja prescrita num regime diário ou intermitente, sendo que no último caso deve ser tomada no estudo Ipergay (uma dose dupla nas 24 horas antes da relação sexual e uma dose única nos dois dias seguintes).

Por que motivo é reutilizado o material de injeção? Pessoas que usam drogas fazem a sua própria pesquisa para o compreender

De acordo com o que foi declarado na 24ª Conferência Internacional de Redução de Danos, mesmo no contexto australiano de acesso relativamente bom a serviços de redução de danos, os principais motivos para as pessoas que usam drogas por via injetada reutilizarem seringas são a conveniência dos serviços, o estigma associado ao uso de drogas, o medo de repercussões e outros fatores contextuais. Um aspeto único deste estudo foi o facto de ter sido planeado, conduzido e analisado por pares daquelas pessoas que estavam a ser estudadas (atuais ou antigos utilizadores de drogas por via injetada). Visto que a investigação é conduzida por pares e qualitativa, pode trazer a voz das pessoas que usam drogas à pergunta sobre por que ocorre a reutilização do material de injeção.

Infeções recentes e interrupções da TAR são períodos chave para transmissão do VIH

Investigadores suíços reportaram na Clinical Infectious Diseases que uma elevada proporção das transmissões pelo VIH ocorrem com infeções recentes ou interrupções do tratamento antirretroviral. No total, 44% das transmissões estavam associadas a infeções recentes e 14% poderiam ser atribuídas a interrupções do tratamento. Os autores consideram que estas conclusões representam um grande desafio para as estratégias do tratamento como prevenção (TasP).

Terapêutica de substituição opiácea reduz transmissão da hepatite C

Uma análise combinada de 25 estudos apresentou pela primeira vez boas evidências de que a metadona e outras formas de terapêutica de substituição opiácea (TSO) reduzem substancialmente as novas infeções pela hepatite C em pessoas que usam drogas por via injetada. Isto já tinha sido demonstrado de forma clara para o VIH, mas não para a hepatite C. Esta metanálise demonstrou que a TSO por si só reduz as infeções pela hepatite C em 39% e em 71% quando combinada com uma elevada adesão à troca de seringas. Este efeito preventivo foi comprovado anteriormente para o VIH mas nunca para a hepatite C.

Notícias de outras fontes

Irlanda: salas de consumo assistido irão abrir no próximo ano, afirma Ministro

Fonte: Irish Times

De acordo com o Ministro responsável pela Estratégia Nacional de Drogas, no próximo ano as pessoas que usam drogas poderão usar salas de consumo assistido por via injetada em Dublin, sendo seguida de Cork, Galway e Limerick. O Ministro pretende também descriminalizar a posse de pequenas quantidades de drogas, incluindo a heroína, cocaína e canábis para uso pessoal, medidas que fazem parte de uma “mudança cultural radical” na abordagem ao consumo de drogas.

Tratamento antirretroviral injetável de ação prolongada aparenta ser promissor nos primeiros resultados de estudo

Fonte: Science Speaks

Um futuro no qual o tratamento antirretroviral não dependa de doses diárias parece estar um pouco mais próximo após a divulgação de que os resultados iniciais demonstraram que uma combinação injetável de dois medicamentos antirretrovirais administrada mensal ou bimensalmente controla de forma eficaz a infeção pelo VIH em pessoas que já tinham carga viral indetetável. Também estão a decorrer estudos sobre um regime injetável de PrEP.

Estudo sugere cura sem precedentes da infeção pela hepatite C em três semanas

Fonte: Science

Pode estar na forja mais uma vitória impressionante na batalha de medicamentos contra a hepatite C: um pequeno estudo sugere que pode ser possível curar a infeção de algumas pessoas em apenas três semanas.

Em crise de heroína, famílias caucasianas querem guerra às drogas mais branda

Fonte: New York Times

Quando a longa guerra às drogas nos Estados Unidos da América se definiu pela epidemia de crack e se baseava nas áreas pobres e predominantemente negras, a resposta pública foi definida por uma política de tolerância zero e de duras penas de prisão. Mas a atual crise de heroína é diferente, afetando mais pessoas caucasianas e de classe média. As famílias estão agora a usar a sua influência, raiva e luto para tornar mais suave a abordagem às drogas naquele país, pedindo ao governo que o trate não como um crime, mas como doença.

O motivo pelo qual os microbicidas para a prevenção do VIH ainda são necessários na era de tratamento como prevenção

Fonte: The Body Pro

Como estão as coisas em relação ao desenvolvimento de agentes tópicos para a prevenção da infeção pelo VIH? Ainda é importante na época da profilaxia pré-exposição (PrEP) oral e do tratamento como prevenção? E se as lições apreendidas pelos investigadores do ensaios VOICE (Vaginal and Oral Interventions to Control the Epidemic) – frequentemente discutido devido ao seu falhanço – ajudarem a tornar os futuros ensaios clínicos mais eficazes, poderemos mesmo considerá-lo um falhanço?

Modelo prevê que cuidados de saúde para o VIH mais organizados poderão salvar vidas e milhares de milhões de dólares

Fonte: Johns Hopkins Medicine

Num relatório sobre o seu modelo epidémico-económico para o VIH, publicado pelo jornal Clinical Infectious Diseases, os investigadores afirmam que os esforços feitos no sentido de encorajar as pessoas que vivem com VIH a manterem um acompanhamento médico regular e aderir à terapêutica antirretroviral a longo prazo poderá ser mais vantajoso em termos de prevenção da transmissão da infeção que apenas os esforços para aumentar o rastreio.

Ministro da Saúde avisa Rússia que a sua epidemia do VIH poderá ficar fora de controlo

Fonte: The Moscow Times

O Ministro da Saúde alertou para a possibilidade de a epidemia de VIH da Rússia poder ficar fora de controlo até ao final da década se não for aumentado o acesso ao tratamento para este vírus.